Na madrugada da última quinta-feira (4), depois de servir 74 clientes em esquema de soft opening, o chef-celebridade Jean-Georges Vongerichten jantava no bar do seu novo restaurante no hotel Palácio Tangará com o resto da equipe, entre eles oito estrangeiros que vieram a São Paulo com ele e seu irmão Philippe, encarregado do salão.
Era a última noite de Vongerichten no Brasil, depois de dez dias disciplinando as tropas e recebendo convidados sem cobrar. Admitindo cansaço, bebia uma caipirinha. "Acabei pegando o gosto, né? Acho esse drinque superbem balanceado", disse. Foi quando surgiu um carrinho com club sandwiches e fritas sob cloches (domos prateados) —testavam a qualidade dos pratos do room service. Sob o olhar curioso desta e de outros jornalistas, apressou-se a dizer que estava ótimo, claro.
Vontade de conhecer outros restaurantes não faltou, mas depois de comer algo que lhe fez mal —uma tapioca com chocolate de um food truck—ficou fora de combate dias.
Acabou só conseguindo escapar do hotel de luxo para jantar fora uma vez, no Maní. "Bom, muito bom", afirmou. "O melhor de tudo foi o lagostim." E passou uma manhã no Mercadão, onde provou mil frutas, apaixonou-se pelas mangas ("melhores do que as do fornecedor do hotel") e comprou abóbora para servir com camarão picante em seu menu-degustação.
Na banca de descendentes japoneses que fornece para, entre outros, Kan e Shin Zushi, comprou namorado e robalo ao montes. No menu do Tangará, composto quase só de pratos "importados" de diferentes restaurantes de seu império global, agora há um criado com base nessa excursão ao centro: finas fatias de robalo cru com cubinhos de frutas exóticas e caldo com leve picância e sabor de coco.
Mês que vem, ele voltará para o festão de inauguração oficial, dia 20. Diz que convidaram até o prefeito João Doria. Mas na verdade, a partir da próxima quarta (10), o Tangará já estará mais do que inaugurado. Vongerichten terá zarpado para cuidar de algum outro pedaço de seu império (em junho abrirá um restaurante no célebre hotel The Connaught, em Londres). Esperemos que os que ficam para tocar o barco mantenham o nível da cozinha, sempre o maior desafio desses restaurantes-salélite com grife de chef-estrela.