Folha de S. Paulo


Bom serviço em restaurantes e bares é privilégio raro dos brasileiros

Roberto Seba/Folhapress
O salão do Maní, no Jardim Paulistano, em São Paulo
O salão do Maní, no Jardim Paulistano, em São Paulo

Passei o fim de semana passado em Camburi, no litoral norte de São Paulo, onde abri uma conta na barraca de praia da Zenaide. Não tinha o suco de abacaxi que pedi, mas ela mandou alguém buscar. Quando a caipirinha chegou doce demais, logo viu minha reprovação e correu a refazê-la. Esmero e simpatia ímpares!

Hoje, meu garçom na Bráz Trattoria era só sorrisos e eficientíssimo, atendeu a jato e com gosto um pedido meu um tanto complicado e inusual.

Nós, brasileiros, estamos tão acostumados com a alegria da maioria dos funcionários de restaurantes e bares que esquecemo-nos de que é um privilégio nosso, raro nas capitais gastronômicas do mundo.
O entusiasmo reverente que nos toma quando passamos férias comendo fora em cidades como Nova York, Londres ou Barcelona age como um filtro cor-de-rosa que minimiza ou esconde uma infinidade de falhas dos restaurantes.

No exterior, ganham espaço os restaurantes que servem menus sofisticadíssimos, feitos por chefs supertécnicos e estrelados, em ambientes despojados.

Neles, impera o serviço "desencanado", habitualmente feito por garçons hipsters, às vezes metidinhos, impacientes e pouco inclinados a se dobrarem aos caprichos dos clientes.

Exemplos clássicos desse tipo de atendimento: o Blanca, em Nova York, e o The Clove Club, em Londres.

Em julho jantei no Le Cinq, em Paris, restaurante de grande reputação onde maître, sommelier e garçons, engravatados e empertigados, fizeram-me sentir a pessoa mais importante e querida do mundo, mimando-me, trazendo-me delícias que não estavam no menu e abrindo garrafas de vinho especialíssimas.

Serviço à antiga -algo fora de moda e em vias de extinção. Mais comum hoje em restaurantes estrangeiros -do bistrô hypado ao famoso e pluriestrelado- é um serviço eficiente, porém frio ou apático.
Já no Brasil, eficiência acrescida de simpatia e calor humano está por toda parte, dos mais caros e formais Maní, em São Paulo, e Olympe, no Rio, a boas churrascarias e a barraca da Zenaide.

Na imprensa e nas mídias sociais fala-se muito e cada vez mais de gastronomia e de chefs, mas fala-se quase nunca desse que é nosso maior trunfo: o bem servir.


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