Folha de S. Paulo


Experiências gastronômicas do Airbnb parecem um negócio sem erro

Do grande ao pequeno hotel, todos querem oferecer "uma experiência única". Vejo em textos de divulgação de redes como o Relais & Châteaux e em publicações nas mídias sociais. Tem muita gente vendendo, entre outras coisas, a ideia de uma noite gastronômica única, divertida e saborosa para um público sedento por jantares diferentes dos de sempre.

O público paga para sair da mesmice e pelo acesso a "momentos" gastronômicos exclusivos. Escolher tomates com a Helena Rizzo, do Maní. Ver o Jefferson Rueda assar o porco que virou hit na Casa do Porco. Nunca recebi tantos anúncios de "jantares especiais" e degustações intimistas —nada baratos, aliás.

Pois os peixes pequenos acabam de ganhar um concorrente peso-pesadíssimo. A gigante plataforma Airbnb, que intermedeia o aluguel de quartos, casas e apartamentos no mundo inteiro, lançou o City Hosts, plataforma (em versão beta) que vende experiências.

Os "city hosts" —anfitriões escolhidos por eles— conduzem atividades para pequenos grupos, oferecidas em pacotes de três por preços em torno de US$ 300 por pessoa. Vão desde pegar onda com um surfista profissional a um tour de arte de rua, passando, é claro, por inúmeros passeios que se concentram nos comes e bebes.

Que tal uma visita a um açougueiro em Tóquio com aula conduzida por especialista em wagyu, carne tida como a melhor do mundo? E idas ao mercado e a vinícolas na África do Sul, comprando comidas e degustando vinhos com uma blogueira famosa?

O "menu" de experiências postado no site —por enquanto só disponíveis em 11 cidades no exterior— dá vontade de fazer a mala correndo.

Não duvido de que o Brasil entrará para o rol, embora a empresa se recuse a comentar o assunto. Noitada de chope e petiscos em um boteco com um carioca da gema, que gringo não pagaria por isso?

No papel, é um negócio sem erro. Ligar pessoas bacanas que mostrem um lado sacado e muito real de uma cidade com turistas curiosos, cobrando comissão. Mas é impossível bolar passeios em grupo que agradem milhões de clientes. O bacana para mim parecerá chatérrimo para outro, e vice-versa. Viajar é um prazer muito subjetivo, com alto risco de decepção. Saberá o Airbnb atender os gostos de gregos e troianos?

Silvio Cioffi/Folhapress
Vinicola de Avondale, perto de Paarl, na África do Sul
Vinicola de Avondale, na África do Sul

Endereço da página: