Folha de S. Paulo


Sua excelência, o tomate

O melhor tomate da Espanha chama-se "feo de Tudela", e é mesmo feio como diz o nome. Amorfo, tem poucas sementes e polpa doce e carnuda. Custa caro, mas o gosto e a textura superiores compensam.

Na concorrida Bodega 1900 do chef-estrela Albert Adrià, em Barcelona, tem lugar de honra no menu. Servem-no em nacos com sal e, ao lado, uma xícara contendo a água do mesmo tomate e um saquinho com zimbro, hortelã e alecrim, como se fosse um chá.

No Ultramarinos Quintin, em Madri, os centros de mesa, em vez de flores, são.. tomates de Barbastro. E outros tipos enfeitam uma espécie de quitanda que serve de cenário no badalado restaurante. Também em Madri, a tasca Celso y Manolo dedica uma seção do menu aos tomates, apresentados como se fossem carne. Há um "chuletón" da variedade huesca, servido com abacate, um "entrecôte" de tomate rosa com anchova e azeitona e um "filé-mignon" com jamón.

Europeus festejam ingredientes da estação, como tomates e morangos no verão e ervilhas na primavera. Na França e na Itália, os verdureiros exibem em destaque, em julho, os enormes tomates coração-de-boi. Tomates nunca faltam no supermercado, mas os europeus sabem que eles são melhores quando produzidos localmente e durante o verão (do que os importados ou os de estufa).

Os tipos de tomate que o brasileiro come (holandês, Débora e italiano) têm pouco sabor. Rodelas do Débora costumam ser durinhas e meio esverdeadas —ele é bem inferior aos primos estrangeiros. "São todos muito ruins", diz Ivan Ralston, proprietário do restaurante Tuju. "São horríveis, exceto os de certos produtores orgânicos", faz coro a chef Nathalie Passos, do Naturalie, no Rio.

Em poucas feiras encontra-se o Momotaro, que se compara em sabor aos europeus, mas que chega a custar cinco vezes mais. Ambos os chefs têm hortas onde cultivam o que falta no mercado. Ralston planta coração-de-boi e tomate amarelo, por exemplo. Mas é mera gota no oceano.

O brasileiro está acostumado a comer tomate ruim. Enquanto não houver demanda não surgirão no mercado tomates de primeira. O jeito é fartar-se de comê-los nas viagens ao exterior e resignar-se. Nossos mamões, cocos, açaís, mangas e abacaxis ganham dos deles —e isso já é um belo consolo


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