Folha de S. Paulo


No 50 Best, o marketing importa

Não havia nenhum chef brasileiro na plateia na cerimônia nesta segunda-feira (13), em Nova York, da mais importante premiação do mundo gastronômico, em que se anunciou o ranking dos 50 melhores restaurantes do mundo (publicado anualmente pela revista inglesa "Restaurant").

A Osteria Francescana, restaurante em Modena, na Itália, conquistou o primeiro lugar. O D.O.M., de São Paulo, foi o único brasileiro a classificar-se entre os 50. Ficou em 11º, caindo duas posições desde o ano passado. Alex Atala, o chef-proprietário, não compareceu à premiação.

O Maní, também de São Paulo, que havia galgado até a 36ª posição em 2014 e caído para a 41ª em 2015, este ano não conseguiu manter-se entre os 50.

O ranking, baseado nos votos de mais de 700 jornalistas, gourmands, restaurateurs e chefs, sempre gera polêmica. Os organizadores têm muitos patrocinadores e apoiadores que em alguns casos influenciam os resultados. Órgãos de promoção de países como México e Austrália pagam para serem anfitriões de cerimônias de premiação e investem pesado em marketing. Pagam viagens para jornalistas e convidam-nos a comerem em seus melhores restaurantes, melhorando as chances de colocarem-se bem na lista.

Chefs reclamam do quão injusto é o ranking, e do lobby que fazem alguns para ganharem votos, mas por outro lado admitem que uma boa colocação faz bem ao negócio.

O Lasai, no Rio, ficou na 64ª posição neste ano (embora só anunciem os primeiros 50 na cerimônia o ranking publicado on-line vai de 1 a 100). Em seguida ao anúncio, os pedidos de reserva por e-mail, de estrangeiros, dobraram. A procura por mesas aumentou cerca de 30%. "Quem diz que essa lista perdeu força é porque não conseguiu se incluir nela", diz Costa e Silva.

Em se tratando dos dez primeiros colocados, o efeito é redobrado. O espanhol El Celler de Can Roca, por exemplo, segundo colocado neste ano, tem uma lista de espera com milhares de nomes. Conseguir uma mesa lá requer meses ou até mais de ano de espera.

O Noma, atual número cinco, na primeira vez que ficou em primeiro lugar na lista, em 2010, foi bombardeado por tantos internautas e pedidos de reserva que seu servidor caiu. O efeito 50 Best é avassalador, e estar entre os dez primeiros significa casa cheia e mais dinheiro em caixa.

Apesar de suas imperfeições, o 50 Best segue sendo o mais importante prêmio do mundo gastronômico, único que consegue reunir em sua cerimônia de premiação uma constelação de chefs estrelados vindos de toda parte. Infelizmente, o Brasil está entre os lanterninhas. Atala, único de nossos chefs cujo restaurante sempre se sai muito bem, deixou de ir ao evento há dois anos e vem caindo no ranking. Seus conterrâneos raramente figuram entre os 50.

Será que é a cozinha dos chefs brasileiros que está aquém da dos estrangeiros e explica a má performance? Sim, em parte.

Mas o que faz a diferença, mais do que o nível do que está no prato, é bom marketing. O país que investe na promoção de sua gastronomia logo tem o retorno. Seus restaurantes saem-se melhor no ranking e com isso constrói-se uma imagem de destino gastronômico.

A pífia performance brasileira no novo ranking dos 50 Melhores é consequência de não haver qualquer esforço governamental de promoção de nossos chefs mais renomados no exterior ou entre jornalistas especializados. Perdemos porque o 50 Best, como tantos rankings, não é pura meritocracia. Ganha quem, além de cozinhar bem, se exibe mais e melhor.


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