No mundo do vinho e da gastronomia, há nomes que quando pronunciados provocam ooohs e aaahs como reação. El Bulli. Noma. Château Petrus. Marcas admiradíssimas das quais até leigos que não gastam dinheiro com isso ouviram falar.
O alto luxo no comer e beber está distante da maioria de nós -com essa crise, mais do que nunca. E, no entanto, conhecemos os nomes.
Vega Sicilia, por exemplo, soa familiar para muita gente -até para quem não bebe vinho caro.
Quando recebi um e-mail contando que viria a São Paulo Pablo Álvarez -o homem por trás dessa famosa vinícola espanhola-, arregalei os olhos. Vinhateiros vêm às pencas ao país para promover seus produtos, mas raramente um desse naipe.
Confirmei presença no almoço para jornalistas. Os lugares para um jantar no restaurante La Tambouille, no mesmo dia, a R$ 990 por pessoa, esgotaram-se em algumas horas. Não é todo dia que está na cidade o homem que faz um vinho mítico. Não houve crise que amainasse o entusiasmo dos enófilos com cacife para isso.
Todos queriam um gostinho do Vega Sicilia Unico, o principal vinho deles. O que provamos no almoço, o Gran Reserva 2004, custa US$ 957 (R$ 3.800) a garrafa na importadora. A vinícola faz outros vinhos, também incríveis, porém menos festejados, vendidos a uma fração do preço (como o excelente Macán Clásico, a US$ 109,50, ou R$ 435).
Mas com a grife Vega Sicilia ninguém pode, nem mesmo a outra prata da casa. Entre consumidores de alto luxo, preço pouco importa -com ou sem crise. "O Brasil é um de nossos maiores mercados", disse Álvarez (leia a entrevista completa ).
Durante a degustação, ele omitiu a guerra que vive com o pai, sócio majoritário da empresa familiar, que o derrotou há pouco em processo judicial e pode removê-lo a qualquer momento do posto.
Não é a primeira vez que uma briga entre parentes ameaça desviar o prumo de um ícone enogastronômico. No tênue balanço que segura marcas no topo, relações humanas importam mais que tudo. O patriarca que trate de cuidar bem do que tem...