Folha de S. Paulo


Eles querem mudar o mundo

Uns dias atrás, perguntei ao chef Alex Atala, do D.O.M., se ele achava que o papel de um chef famoso vai além de cozinhar bem e administrar bem seus restaurantes. "Sim, porque a comida é a conexão entre sete bilhões de pessoas no mundo e deixou de ser só um serviço para virar um tema", disse. "Nós, chefs com visibilidade, todos militamos por alguma coisa. Cada um intervém na cadeia a seu modo."

Alex é o representante brasileiro do chamado G11, conselho de chefs cujo nome alude ao fórum dos países mais ricos do mundo, o G8.

Seu presidente é ninguém menos do que o Pelé da cozinha: Ferran Adrià, do extinto El Bulli, na Catalunha, Espanha. Lançado em Lima, Peru, em 2011 com alarde, quando foi divulgada uma polêmica carta de intenções, o G11 está prestes a se reunir em São Paulo para seu quarto conclave anual.

Quase tão sigiloso quanto o dos cardeais, o conclave culmina em um anúncio de suas conclusões. O objetivo? Mudar o mundo.

Se em 2011 esses chefs ainda tateavam e sofriam ataques quando faziam grandes pronunciamentos sobre a gastronomia social e o papel do cozinheiro como catalisador, hoje o quadro mudou. São aplaudidos em seus esforços de usarem e promoverem ingredientes sustentáveis, de protegerem e pesquisarem espécies ameaçadas e de levarem a gastronomia aos excluídos. Hoje alguns deles, em parceria com políticos, chegam a mudar leis.

O grande anúncio, desta vez, será no dia 3 de novembro, no evento Semana MesaSP, no Senac paulistano, no qual três dos "gê-onzes" darão palestra: os célebres Joan Roca (Espanha), Michel Bras (França) e Yukio Hattori (Japão).

Provavelmente, o grupo fará um alerta sobre a importância de proteger e incentivar o pequeno produtor, causa abraçada por Atala, que sempre diz que a proteção do ambiente começa pelo ser humano que dele tira seu sustento.

O falatório dará resultado? Água mole em pedra dura... Lá e cá andam surgindo exemplos que demonstram que tem coisa que o Estado não faz acontecer, mas cozinheiro faz.


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