Folha de S. Paulo


Ventos frios do Novo Mundo

Quando o novo mundo surgiu, foi como uma baforada de ar fresco para o consumidor cansado da oferta de vinhos europeus. Nada de errado com os velhos europeus. Mas nos anos 1990 as denominações de origem não garantiam qualidade de nada, os vinhos eram caros e difíceis de entender.

Aos poucos, Chile e Argentina entram em cena. Não foram recebidos sem preconceito. No comecinho dos anos 2000, quando trabalhei como sommelière no D.O.M., no Le Vin e na Figueira, lembro bem: ao oferecer um vinho argentino ou chileno, as pessoas achavam um absurdo, "Certeza vou ficar com dor de cabeça". Diante da minha insistência e do bom preço, acabavam se convencendo.

Logo vieram as longínquas Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Em comum, tinham a frutosidade suculenta que só regiões de verões muito iluminados e cálidos têm. O problema é: nunca demora pra coisas legais virarem clichês entediantes.

Ao longo desses 15 últimos anos, poucos produtores desses países inovaram em estilo. Todos insistiram na fruta exagerada e boca redonda pra garantir as vendas e agradar o paladar brasileiro. Nada errado em encher a carteira de dinheiro, nem de agradar seu consumidor. Mas não apostar na variedade é condenável. Hoje, nos deparamos com muitos vinhos baratos, exagerados na fruta e sem grande expressão.

Mas o vinho não permite generalizações e há sempre novas janelas. Atualmente assistimos a alguns bravos seres humanos apostando suas fichas na variedade, ou seja: buscando frescor, acidez, vivacidade em climas mais frios.

O Chile é um dos mais dinâmicos e vem explorando, sem medo, a influência fria pacífica que banha seu litoral. Algumas das regiões mais vanguardistas da Austrália estão em Nova Gales do Sul e Victoria, esta última bem ventilada pelo oceano Indico. Yarra Valley é a mais icônica, mas não é a única. A tendência de buscar zonas frias está por todo o país. A Nova Zelândia é praticamente toda fria e talvez seja esse fator que tornou o país tão amado pelos consumidores de vinhos. A costa uruguaia tem o sopro fresco atlântico e Maldonado é um pólo de vinhos de clima fresco.

Vinhos frutadões são deliciosos. Mas mais gostoso do que ter um estilo de vinhos é ter opção, ter vários, ter muitos. E os novos climas frios são o futuro do novo mundo.

Garzón Sauvignon Blanc 2014
Muito delicado e fresco, pera verde. Um pouco de salinidade e bastante frescor na boca
REGIÃO Uruguai (Maldonado)
QUANTO R$ 90,20
ONDE World Wine; tel. (11) 3383-9300

Cono Sur Reserva Especial Saubignon Blanc 2013
Um nariz curioso de manteiga derretida e aspargo. Na boca é arisco, com acidez viva e bastante fruta
REGIÃO Chile (Valle de Casablanca)
QUANTO R$ 86,80
ONDE La Pastina; tel. 0800-721-8881

Stoneburn Riesling 2015
Pêssego muito fresco, citronela e nota de talco. Na boca é incrivelmente fresco e cremoso
REGIÃO Nova Zelândia (Marlborough)
QUANTO R$ 123,92
ONDE Premium; tel. (11) 2574-8303

Cool Climate Series Pinot Noir 2009
Chá de hibisco, florais, um pouco de caramelo e fruta. Boca bem frutada, suculenta com final picantinho e alcoólico
REGIÃO Austrália (Nova gales do Sul)
QUANTO R$ 154
ONDE Kmm Vinhos; tel. (11) 3819-4020


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