Folha de S. Paulo


Há os que dormem

Ser palestrante hoje em dia é um desafio, principalmente quando o público é "convidado" a participar sem ser devidamente sensibilizado para o tema -no caso, a gestão da própria carreira.

Os assuntos abordados numa palestra como essa não se enquadram na categoria motivacional, muito pelo contrário, são espinhentos e levam o cidadão a se questionar e refletir sobre suas opções, sobre projetos de vida, finanças, valores e crenças pessoais. Levam a tomar consciência sobre limitações técnicas e o conflito frequente entre "quem eu sou e quem eu gostaria de ser".

O movimento de uma palestra assim é pendular, ora leva a questionamentos internos (autoconhecimento), ora leva para os externos (sobre o mercado). São esses os dois pontos básicos para gerir a carreira e fazer escolhas que sejam adequadas. Essa dialética é fundamental para o autodesenvolvimento e a apreensão da realidade.

No público, há os atentos, que acenam com a cabeça em sinal de concordância. Há olhares instigados e curiosos, nos quais se percebe dúvidas, incertezas e a tomada de consciência de que o mundo dos negócios e do trabalho não oferece garantias, que as exigências são muitas para aqueles que desejam se destacar e que não há receita que funcione para todos. Os caminhos dessa reflexão são solitários.

Há também os que dormem. Sempre é uma escolha. O dormir, num evento como esse, me faz questionar sobre a falta que faz orientar as pessoas quanto à esquecida e abandonada etiqueta corporativa, o respeito ao próximo e a consideração pelas pessoas. Podemos incluir aí, também, a gentileza, tão ausente nas relações e nos relacionamentos. A vida não é fácil. Sem esforço não há recompensa.

Não dormir significa estar vigilante, consciente e atento para o que está acontecendo à sua volta.

É claro que, em algumas ocasiões, a vontade é de se alienar de tudo, pois o mundo parece sem solução. Entretanto, enquanto alguns dormem sono profundo, há os que acreditam que o cenário pode ser oportuno e que podem fazer algo mais, que podem mudar, que podem fazer diferente e que há lutas para serem enfrentadas.

Realmente há muito a ser feito.


Endereço da página: