Folha de S. Paulo


Mais que ouvir

A comunicação é, sem dúvida, um dos grandes entraves no mundo corporativo. A questão que trago hoje nem é tanto a comunicação verbal, o falar, mas, sim, o escutar. Nas últimas semanas venho observando o quanto a paciência e a tolerância com o processo de escuta, importantíssimo para que haja, efetivamente, a troca de informações, parecem estar reduzidas.

Nada me tira da cabeça que os índices de violência do país refletem, de certo modo, a falta de escuta dos governantes e dos gestores sobre as carências, as necessidades e as insatisfações.

As pessoas não se sentem ouvidas, então berram por meio dos atos de violência. Querem atenção, de alguma maneira. Quando a pessoa se sente ignorada, excluída ou marginalizada, fica muito frustrada.

Nas organizações também. Entre as maiores queixas dos profissionais está a falta de reconhecimento, que pode ser entendida como a baixa percepção do outro –é possível incluir nesse pacote a falta de escuta.

Será que estamos atarefados demais para olhar o outro? Será que o contato virtual nos rouba o real? Será que nos acostumamos com as estatísticas e os números e ficamos menos atentos para a percepção do indivíduo?

Lembro que escutar é diferente de ouvir. Se você não tem problemas no aparelho auditivo, você ouve. Mas escutar implica dar atenção ao que o outro está dizendo e compreendê-lo: não só com palavras, mas também com gestos, postura, expressão facial e tom de voz.

A escuta é uma exigência para as relações, mas está em baixa.

Fazer esse exercício implica olhar e observar cuidadosamente seu interlocutor, compreender o que ele diz e os sentimentos envolvidos, sem julgamentos. Fique atento também para a fluidez do discurso e as vacilações, pois todos esses detalhes podem revelar o que as palavras não conseguem dizer.

Quando a pessoa sente que é escutada, dá mais abertura para a mudança de atitudes, pois ela se sente valorizada e, por isso, menos defensiva e mais flexível.


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