Folha de S. Paulo


País improdutivo

"Gloriosamente improdutivo". Foi assim que a revista "The Economist" definiu, há duas semanas, o trabalhador brasileiro. Segundo o artigo, "a produtividade total, que mede a eficiência com a qual o capital e o trabalho são utilizados, é menor hoje do que era em 1960. A produtividade do trabalho foi responsável por 40% do PIB brasileiro entre 1990 e 2012, comparado a 91% na China e 67% na Índia, de acordo com a consultoria McKinsey".

Podemos até ficar incomodados, mas o fato é que os números falam por si. A produtividade nacional é muito ruim quando comparada a outros países e esse é mais um fato com o qual não podemos nos acomodar, assim como vários outros aspectos já mencionados nesta coluna.

Por outro lado, vale a pena ressaltar que não dá para despejar toda a responsabilidade nas costas do trabalhador, como se ele fosse acomodado e não quisesse fazer melhor.
Somos resultado, em parte, da falta de investimento em educação, que impacta diretamente no resultado dessa conta.

Educação ruim dificulta a melhoria de processos, aumenta o tempo em treinamento e desenvolvimento, atrasa a resolução de problemas e favorece a ocorrência de erros frequentes, o que prejudica projetos e processos.

Há também o atraso na atualização do parque industrial, falta de políticas que facilitem as condições de modernização das indústrias e o barateamento do processo produtivo.

O que se ganha quando melhoram a qualidade e a produtividade? Muito! Todos saem ganhando e essa é a visão de longo prazo que não faz parte da nossa história.

Segundo a "The Economist", "a partir do momento em que você pisa no Brasil, começa a perder tempo". Não seria bom receber serviços no prazo, nas especificações corretas e com preço adequado, conforme o combinado, ou ter a certeza de que os produtos são padronizados e confiáveis? E que as condições de trabalho e transporte fossem mais seguras, por exemplo?

Mas a gente vai acostumando com o "está bom assim" ou "vai desse jeito mesmo, fazer o quê?". Infelizmente, um dia a conta chega.

ADRIANA GOMES é coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas na ESPM. Escreve quinzenalmente, aos domingos, neste espaço


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