Folha de S. Paulo


Arqueólogos acham evidências de que vinho era consumido no ano 6.000 a.C

Georgian National Museum
Recipiente de cerâmica onde foram achados vestígios de vinho
Recipiente de cerâmica onde foram achados vestígios de vinho

Esqueça a França, a Itália ou mesmo Portugal. O berço do vinho –ou, pelo menos, o lugar do planeta onde foram achadas as mais antigas evidências arqueológicas da bebida– é a Geórgia, o pequeno país entre as montanhas do Cáucaso e o mar Negro no qual a Europa e a Ásia se encontram desde a Antiguidade.

As revelações sobre o antigo vinho da Geórgia são basicamente uma questão de química. Recipientes de cerâmica produzidos por volta do ano 6.000 a.C., achados a cerca de 50 km de Tbilisi, capital do país, contêm resquícios de substâncias –principalmente ácido tartárico, ácido succínico e ácido cítrico– que sugerem fortemente o armazenamento da bebida lá dentro.

A pesquisa, publicada recentemente no periódico científico "Pnas", da Academia de Ciências dos EUA, foi coordenada por David Lordkipanidze, pesquisador do Museu Nacional Georgiano mais conhecido por estudar os hominídeos (ancestrais do ser humano) de quase 2 milhões de anos da região.

Os restos de vinho descobertos por Lordkipanidze e seus colegas são pelo menos 500 anos mais antigos que os recordistas anteriores, que tinham sido achados no Irã.

Além de realizar a análise química, os arqueólogos também identificaram antigas sementes de uva e verificaram que os grandes vasos nos quais o líquido era guardado eram adornados com desenhos estilizados que provavelmente representam os cachos da fruta. O formato dos recipientes –muito compridos e com bases estreitas– sugere que eles ficavam enterrados enquanto a bebida ia fermentando.

Se a Geórgia parece uma localização relativamente obscura para a origem de uma prática que acabou se tornando uma das grandes paixões globais, convém lembrar que, para começo de conversa, o ambiente da região onde os jarros foram achados –suavemente montanhoso e seco– parece ser o ideal para o crescimento das parreiras.

Além disso, a posição geográfica georgiana favoreceria tanto o espalhamento da técnica para o oeste, em direção aos países da bacia do Mediterrâneo, quando para o leste, no rumo da Mesopotâmia, do Irã e da Ásia Central.

O hábito de consumir bebidas alcoólicas feitas com suco de uva fermentado também existia na China pré-histórica (a partir de 9.000 anos atrás), mas, por lá, o resultado não era vinho puro, mas uma espécie de coquetel
que também misturava outras frutas, cerveja de arroz e hidromel.


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