Folha de S. Paulo


Lixo espacial preocupa cientistas

David Ducros/ESA
Satélite coletor de lixo espacial da ESA pode começar atividades em 2023
Satélite coletor de lixo espacial da ESA pode começar atividades em 2023

Em vastas regiões da órbita terrestre, em áreas que estão entre 800 e mil quilômetros de altitude, grandes quantidades de lixo circundam o planeta. O problema tem aumentado com o passar do tempo –e causa preocupação à comunidade científica.

Partes de satélites que colidiram uns com os outros, satélites desativados de espionagem, de observação da Terra e de comunicação giram à deriva pelo espaço. Peças de foguetes e até mesmo ferramentas que os astronautas deixaram cair enquanto faziam consertos na Estação Espacial Internacional (ISS) voam descontrolados na órbita terrestre. Especialistas estimam que haja em órbita mais de 750 mil peças de sucata, todas maiores do que um centímetro.

Elas representam um perigo para satélites ativos, para a estação espacial e para foguetes. Até mesmo pequenos destroços podem ter o efeito de uma bala. Quando acidentes acontecem, como em 2009, isso pode sair caro. Naquele ano, dois grandes satélites colidiram: o US Iridium 33, que estava ativo, e o satélite inativo russo Russian 2251.

O acidente produziu toneladas de detritos, que repetidamente colidem entre si. Especialistas temem exatamente essa reação em cadeia, a que chamam Síndrome de Kettler. Através dessas colisões, são criadas outras novas partículas, até que tantos detritos estejam flutuando no espaço a ponto de se tornar impossível lançar mais satélites e enviar naves ao espaço.

Os detritos também entram na atmosfera terrestre. Isso ocorre o tempo todo. Até agora, ninguém foi ferido, pois o risco é muito baixo. Especialistas da Agência Espacial Europeia (ESA) estimam que, por ano, aconteçam cerca de 40 quedas de detritos espaciais em algum lugar no mundo. Mas esses incidentes só ocorrem com peças grandes ou constituídas de material extremamente resistente ao calor. Caso contrário, os objetos são incinerados quando entram na atmosfera da Terra.

Cientistas trabalham para encontrar soluções para eliminar o lixo espacial, pois se este continuar a aumentar, pode passar a ser um grande risco para satélites, foguetes ou telescópios espaciais, que custam bilhões de dólares. As ideias incluem a coleta ou eliminação de detritos espaciais com ajuda de robôs, redes, cordas eletromagnéticas ou raios laser.

A ESA desenvolve, por exemplo, um satélite projetado para limpar o espaço. Ele poderia recolher satélites em desuso com uma rede ou um braço robótico e, em seguida, redirecioná-los para que, de forma controlada, queimem ao entrar na atmosfera terrestre. O e.Deorbit deve começar suas atividades em 2023.

Outra ideia, que está longe de ser realizada, é atirar no lixo espacial com um laser, a partir do espaço ou da Terra. Isso poderia alterar a trajetória de voo do material, fazendo com que ele caia para ser incinerado na atmosfera.

Já especialistas do projeto americano Space Surveillance Network monitoram peças que têm um diâmetro maior do que dez centímetros –as menores eles não conseguem enxergar com seus telescópios. Essas sucatas maiores constituem apenas 23 mil das cerca de 750 mil partículas. O monitoramento ocorre para evitar acidentes a tempo, caso os objetos se aproximem da ISS ou de um satélite.


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