Folha de S. Paulo


Depois de ir a Lua, ex-astronauta Buzz Aldrin quer colonizar Marte

"Ou exploramos, ou expiramos." O aviso vem de Buzz Aldrin, segundo homem a pisar na Lua, que agora quer deixar sua marca com um ambicioso plano para chegarmos a Marte e fazer do planeta vermelho nossa colônia espacial.

Para atrair os terráqueos para esta aventura intergaláctica, Aldrin virou um holograma num vídeo de realidade virtual no qual nos leva para passear universo afora. Um teaser pode ser visto aqui.

"Não quero ser lembrado apenas por ter chutado poeira lunar", disse Aldrin, 87, num painel lotado no festival South by Southwest (SXSW), que acontece até domingo em Austin, capital do Texas (EUA). "Espero que a colonização de Marte seja um dia uma ideia aceita nacionalmente. Nosso objetivo é expandir a raça humana, e Marte é o lugar mais certo para fazermos isto. A Lua, para citar eu mesmo, é um lugar desolador."

Seu plano envolve construir uma espaçonave que viajaria em ciclos orbitais e uma colonização prévia na Lua para servir de aclimatação, plataforma de lançamento e abastecimento para jornadas mais longas, como Marte. No vídeo de realidade virtual "Buzz Aldrin: Cycling Pathways to Mars", que fez sua estreia no SXSW nesta semana, Aldrin aparece num holograma para explicar o plano em detalhes, embora os visuais sejam tão extraordinários que o usuário pode perder o fio da meada facilmente.

Para conseguir apoio ao seu plano, Aldrin demonstrou recentemente simpatia ao governo de Donald Trump, que prometeu reduzir gastos da Nasa para pesquisas de aquecimento global para aumentar o de programas de exploração espacial. Ao ser questionado sobre esta possibilidade, Aldrin foi diplomático.

"Não me envolvo em política, não sou comentarista. Quem quer que esteja na Casa Branca precisa ser meu amigo. Quero trabalhar com quem quer que seja", disse Aldrin à Folha, numa conversa entre jornalistas em seu quarto de hotel.

De calça jeans e com uma jaqueta prateada, Aldrin usava três pulseiras em cada braço e cinco anéis dourados, além de abotoaduras com a bandeira dos EUA. O engenheiro e ex-astronauta, que é também doutor em Astronáutica pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), passou o dia no SXSW com uma camiseta com o logo da Nasa em vermelho e a frase "Get your ass to Mars" (literalmente "leve sua bunda a Marte"), do filme "O Vingador do Futuro" (2012).

Aldrin, que chegou na Lua com Neil Armstrong durante a missão Apollo 11 em 1969, lembrou que hoje os EUA levam astronautas ao espaço por meio "de carona" nos lançamentos russos e que é preciso voltar a ser competitivo. Mas ele não tem vontade de ser o pioneiro em território marciano. "Sou mais valioso aqui na Terra de maneira que acho que nunca poderia ser lá", disse.

A corrida por Marte vem se intensificando na última década e conta com empresas privadas e agências estatais. Aldrin comentou que conversou com Elon Musk, da fabricante de foguetes SpaceX e carros elétricos Tesla, sobre seus planos e o criticou por não pensar além de simplesmente chegar ao planeta vermelho. "Sabemos como chegar lá. Mas ele é um cara do transporte, não da habitação. Sabe fazer foguetes, não prédios", disse Aldrin.

REALIDADE BRASILEIRA

Uma certa vertigem toma conta dos mais fracos ao entrar na viagem de "Buzz Aldrin: Cycling Pathways to Mars". De óculos na cara, o usuário se vê numa pequena plataforma que viaja pelo espaço, entre as estrelas e passando no meio de satélites. Dá para andar pela Lua e também Marte.

O vídeo, feito em parceria com a revista Time e a empresa i8, será distribuído em plataformas de realidade virtual (VR) para aparelhos HTC Vive e Oculus Rift. Uma versão 360 graus, que não requer óculos, estará disponível online em breve (http://time.com/LifeVR).

"Fizemos a experiência com várias pessoas. Mas Buzz foi o primeiro que, ao chegar na Lua, olhou para cima para procurar a Terra", disse o cofundador da 8i, Linc Gasking.

Dois brasileiros que moram em Los Angeles, sede da maioria das firmas de VR, se envolveram no projeto. O brasileiro Danilo Moura, especialista em VR e games, foi produtor executivo do vídeo e contou com ajuda de cientistas da Nasa. "De um arquivo de 11 mil fotos, separamos 600 só de pegadas na Lua e 400 da bandeira americana. Produzimos tudo, incluindo as crateras, com a maior precisão possível", contou Moura, cofundador da Loot, parceira da 8i.

Já o programador Guilherme Rambelli, especialista em hologramas da 8i, assinou a direção de arte. Para fazer o terreno de Marte em VR, a equipe mandou um fotógrafo para um deserto no Marrocos, usado pela Nasa como simulação do terreno marciano. "Ele passou 12 horas dirigindo, chegou até a se perder, para escanear a paisagem", contou Rambelli.


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