Folha de S. Paulo


Neandertais já usavam antibióticos e analgésicos; alguns eram vegetarianos

Paleoanthropology Group/AFP
Maxila (osso da parte de cima da cavidade bucal) de um neandertal da Espanha; análise do tártaro revela estilo de vida
Maxila de um neandertal da Espanha; análise do tártaro revela estilo de vida dos antigos hominídeos

Homens de Neandertal tinham hábitos diversos: uns comiam tanta carne como um lobo, outros eram vegetarianos quase completos.

E houve pelo menos um que se automedicava com um analgésico (que tinha o mesmo princípio ativo da aspirina) para tratar de um abcesso dentário e com um antibiótico para evitar diarreia causada por um parasita –um pioneiro uso da penicilina.

O estudo das bactérias da boca poderia indicar ainda que o indivíduo também trocava beijos –ou pedaços de comida mastigados– com seres humanos de anatomia mais moderna.

Ou seja, a pesquisa mais uma vez ressaltou a grande "interação" entre os dois tipos de humanos.

Neandertal é o vale na Alemanha onde o primeiro espécime desse hominídeo foi encontrado. Os neandertais viveram em quase toda a Europa e boa parte do oeste asiático.

Foram estudados três "vegetarianos" da Espanha, dois "carnívoros" da Bélgica e um da Itália, mas só dois dos espanhóis e um dos belgas permitiam análise do DNA.

O material testado era o tártaro, uma forma mineralizada de placa bacteriana. A pesquisa está na revista "Nature". A equipe de 31 pesquisadores de onze países foi coordenada por Laura Weyrich e Alan Cooper, Universidade de Adelaide, na Austrália.

"A placa aprisionou micro-organismos que viviam na boca e patógenos do trato respiratório e gastrointestinal, assim como pedaços de comida presa nos dentes, preservando o DNA por milhares de anos", declara Laura.

"A análise genética do DNA 'preso' na placa representa uma janela única no estilo de vida neandertal, revelando novos detalhes do que eles comiam, como era sua saúde e como o ambiente impactava seu comportamento."

Os fósseis tinham idades de até 50 mil anos. Entre os "fósseis" de micróbios está o genoma quase completo –o mais antigo do tipo– de uma bactéria oral da espécie Methanobrevibacter oralis.

"Os neandertais da caverna El Sidrón (Espanha) não mostraram evidência de consumo de carne. Pareciam ter uma dieta largamente vegetariana, de nozes, musgo, cogumelos e casca de árvore".

Outro achado surpreendente foi a automedicação de um neandertal de El Sidrón. Para aliviar a dor de dente ele usava álamo, árvore que contém o analgésico ácido salicílico, de que é feita a aspirina.

E usava um mofo que é um antibiótico natural, Penicillium rubens, para tratar a infecção crônica pelo parasita gastrointestinal Enterocytozoon bieneusi.


Endereço da página: