Folha de S. Paulo


Como nasce um elemento químico?

Fazia tempo que tanta gente não se interessava por química. Recentemente a Iupac (União Internacional de Química Pura e Aplicada, na sigla em inglês), maior representante global das ciências químicas, reconheceu a descoberta dos quatro elementos que faltavam para completar a sétima linha horizontal da tabela periódica.

Na verdade, as descobertas aconteceram há uma década, mas estavam ainda em escrutínio para a validação dos resultados. Os elementos, que agora têm "pai", finalmente poderão ser batizados e os nomes do tipo Uut (unúntrio, ou "1", "1", "3" em latim) poderão ser substituídos por alternativas mais simpáticas.

Esse número, 113, é o chamado "número atômico" e indica a quantidade de prótons –partículas de carga positiva– no núcleo de cada átomo. Lá também são encontrados nêutrons, partículas de carga neutra, em número que pode variar. Os elétrons, de carga negativa, não ficam no núcleo, e sim numa espécie de nuvem que orbita o átomo.

No caso do unúntrio, os possíveis nomes, cogitados na época de sua descoberta, em 2004 no instituto Riken, no Japão, são os quase originais "japônio" e "rikênio". Outra alternativa seria homenagear o físico Yoshio Nishina ("nishinânio"). O cientista, morto em 1951, é bastante conhecido no país asiático.

William Mur/Editoria de arte/Folhapress

Novos elementos

Os demais elementos (115, 117 e 118) foram descobertos predominantemente por cientistas russos e americanos (as equipes são numerosas) se valendo da colisão de partículas. O método permitiu a descoberta de outros elementos superpesados –com número atômico maior que 100.

A comoção pela completude da tabela periódica atingiu também os fãs de heavy metal, estilo musical que perdeu Lemmy Kilmister, baixista e vocalista da banda inglesa Motörhead, morto em 28 de dezembro de 2015 por causa de um câncer agressivo.

Um abaixo-assinado pede que algum dos quatro elementos seja chamado de "lemmium", em homenagem ao músico –a meta é obter 150 mil assinaturas. Mas os fãs de metal e os químicos eminentes terão de esperar um pouco.

As propostas ainda passarão por consulta pública e, depois meses, o martelo será batido pela Iupac, explica o químico e professor da USP Henrique Toma, um entusiasta da tabela periódica e colecionador de seus elementos (os não radioativos).

O QUE VEM DEPOIS

Os possíveis elementos da oitava linha, com número atômico a partir do 119, podem ter propriedades químicas totalmente diferentes do padrão até então observado. A geometria atômica teria um papel importante, com a interferência do núcleo "ultramassudo" nas propriedades dos elétrons.

Para explorar a ultrapesada oitava linha, os cientistas poderão contar com os elementos superpesados recém-descobertos. Por mais que sejam relativamente efêmeros (alguns decaem em frações de segundos), eles podem ser uma "ponte" para o futuro da tabela periódica.

Os novos elementos são produzidos com muitas contas e um colisor de partículas. De um lado vem um átomo mais leve, como cálcio ou zinco, e de outro vem um mais pesado (eventualmente a "ponte").

Segundo Toma, estudar a formação desses elementos pode auxiliar a compreender e domar a produção de energia por fusão nuclear –talvez a mais rentável da natureza. No caso, poucos quilos de matéria prima (átomos massudos de hidrogênio) poderiam alimentar uma cidade de São Paulo por um dia inteiro.


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