Folha de S. Paulo


'Não deveria haver desmatamento no Brasil, nem o legal', diz Teixeira

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira admitiu que o problema do desmatamento no país não está resolvido, apesar da diminuição da prática.

"Não está resolvido por duas questões muito claras: não deveríamos ter mais desmatamento no Brasil, nem legal, nem ilegalmente. Mas nós temos autorização do uso de solo assegurado por lei", disse durante o 3º seminário anual sobre emissões brasileiras de gases de efeito estufa promovido pelo Observatório do Clima.

A expectativa, segundo Izabella, é que o Cadastro Ambiental Rural (CAR) auxilie no monitoramento das taxas de áreas desmatadas e que isso possa ser utilizado para a valorização dos produtos agropecuários também no cenário internacional.

A criação de uma nova cultura sobre o clima, envolvendo responsabilidades de outros setores e ministérios, que não apenas meio ambiente, mas econômico, rural, de desenvolvimento sustentável poderia solucionar embates e impulsionar políticas mais fortes acerca do tema, disse.

"O Brasil só vai ser um país de baixo carbono se isso estiver como prioridade nas questões econômicas e políticas. As pessoas precisam entender que não há necessidade de desmatar para expandir o desenvolvimento das atividades agropecuárias. É necessário restaurar áreas degradadas e implementar as medidas de agricultura de baixo carbono", concluiu Teixeira.

AGROPECUÁRIA

Os 60 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil emitem, ao ano, a mesma quantidade de gases de efeito estufa da fermentação entérica dos rebanhos do país. Foi o que concluiu o Imaflora, instituto membro do Observatório do Clima.

A novidade deve fazer com que o foco das ações de redução das emissões da pecuária priorize a recuperação dessas áreas degradadas. A atividade agropecuária foi responsável, em 2014, por 27% do total das emissões brasileiras.

O valor, no entanto, não contabiliza o balanço de carbono, ou seja, as emissões dos gases que provocam o efeito estufa gerados pela decomposição do material orgânico em pastagens degradadas, nem a remoção desses gases da atmosfera, por meio de boas práticas no campo e na pecuária. Levando-se em conta esse cenário, os gases que provocam o efeito estufa subiriam em 25%.

"Recuperar essas pastagens é a medida de maior potencial de redução de gases do efeito estufa (GEE) no cenário brasileiro. Há um potencial enorme ali, em conjunto com a intensificação da produção de forma sustentável", diz a pesquisadora Marina Piatto, engenheira agrônoma, coordenadora da área de Iniciativa de Clima e Agropecuária, do Imaflora.

"As áreas de pastagens degradadas no país são muito grandes e, se forem recuperadas e utilizadas para expansão agropecuária, pela nossa conta, será possível reduzir as emissões em 50% neste setor, até 2030", afirma.

NOVA FERRAMENTA

O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), segundo a ministra, deve lançar na próxima semana uma nova ferramenta de monitoramento de desmates em biomas como o Cerrado, que vem sendo fortemente pressionado pela agricultura, principalmente pela expansão da soja, e pela pecuária de corte.

Além disso, Izabella cobrou transparência dos governadores dos Estados amazônicos, alegando não haver necessidade de desmatar mais a Amazônia para avançar o desenvolvimento econômico na região. "Mas os governos dos estados precisam querer isso. Precisa ter transparência, compromisso", diz.

Ayrton Vignola - 17mai.2005/Folhapress
Desmatamento em Moraes Almeida (PA) mostra que devastação da Amazônia ocorre também dentro de áreas de mata preservada
Desmatamento em Moraes Almeida (PA) mostra que devastação em mata preservada

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