Folha de S. Paulo


Universo está morrendo, diz estudo com 221 mil galáxias

Um censo de galáxias localizadas num raio de 2,5 bilhões de anos-luz constata: o Universo está num processo de morte lenta, um gradual apagar das luzes.

Os resultados sugerem que, 2 bilhões de anos atrás, a quantidade de energia produzida pela soma de todas as estrelas nas galáxias era aproximadamente o dobro da atual.

Isso quer dizer que o auge da formação de estrelas já aconteceu. Hoje, nascem cada vez menos desses astros, e morrem cada vez mais deles.

As medidas, baseadas num estudo de cerca de 221 mil galáxias, fazem parte do projeto internacional Gama (sigla para "composição de galáxias e massa"), comandado por Simon Driver, da Universidade da Austrália Ocidental.

O resultado foi apresentado durante reunião da União Astronômica Internacional, em Honolulu, no Havaí.

Modelos que descrevem a origem e a evolução do cosmos já previam que o pico de formação de estrelas teria passado e que agora estaríamos numa fase de arrefecimento.
Havia evidências de que esse fosse o caso desde a década de 1990, mas o Gama é o estudo mais amplo já feito.

Além da amostra de galáxias, o projeto cobriu uma vasta extensão do espectro eletromagnético –também em infravermelho e ultravioleta.

A iniciativa usou telescópios do Observatório Europeu do Sul, no Chile, e de dados dos satélites da Nasa e da Agência Espacial Europeia.

Ao que tudo indica, esse é o primeiro estágio da degenerescência do Universo, em que ele vai se resfriando e se diluindo, impulsionado pela aceleração da expansão e pelo esgotamento da matéria-prima para a fabricação de estrelas.

"O Universo basicamente se sentou no sofá, puxou as cobertas e está prestes a entrar num cochilo eterno", afirma Driver.

O processo, contudo, é lento. A fase ativa do Universo ainda deve durar muitos bilhões de anos, e depois disso as estrelas mais longevas viverão por até 1 trilhão de anos até que só restem os resquícios das glórias de outrora.

E isso só se a misteriosa energia escura –que ninguém sabe o que é– continuar agindo para acelerar a expansão do Universo.

Caso ela mude de comportamento, o cosmos pode até se contrair e terminar num Big Crunch ("grande esmagamento"), um Big Bang às avessas.

Enquanto o mistério da energia escura não for desvendado, não há como ter certeza do que vai acontecer.

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MORTE DO UNIVERSO

Geração
A principal fonte de energia são as estrelas, que produzem luz por fusão nuclear. Ao grudar átomos de hidrogênio, elas geram enormes quantidades de radiação

Soma tudo
Ao observar as galáxias, os cientistas podem estimar quanta energia está sendo produzida pelas estrelas residentes nelas

De volta para o futuro
Como a luz demora um certo tempo para viajar de um ponto a outro do Universo, quando olhamos para galáxias mais distantes, estamos vendo como elas eram no passado

Editoria de Arte/Folhapress
Animação com imagens do cosmos avaliadas com diferentes frequências de luz
Animação com imagens do cosmos avaliadas com diferentes frequências de luz

Amostra grande
O projeto Gama observou cerca de 221 mil galáxias, que representam os últimos 2,4 bilhões de anos do Universo, dos 13,8 bilhões que ele tem

Luz de todo tipo
Para a análise, os cientistas não usaram somente a luz visível, mas também faixas do infravermelho e do ultravioleta (imagens ao lado)

A evolução do cosmos
Ao comparar galáxias de todo esse período, os cientistas constataram que a produção de energia caiu pela metade nos últimos 2 bilhões de anos

O futuro
A constatação está alinhada com as teorias sobre a evolução do Universo, que sugerem que ele já está numa fase menos ativa de produção de estrelas


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