Folha de S. Paulo


Projeto troca copiloto de aeronave por robô

Joel Walker, piloto de testes da Aurora Flight Sciences, conduzia seu pequeno bimotor no meio de um temporal. Antes de alcançar 1.500 metros, ele apertou um botão que transferiu o controle do avião para seu copiloto.

Não foi preciso dizer uma palavra. O copiloto tinha sido substituído por uma armação de ferragens e cabos.

Seguindo instruções de outro piloto em terra, o "copiloto" assumiu o controle do avião e executou uma série de manobras, incluindo demoradas curvas em S.

O voo foi a primeira demonstração do Alias, novo projeto da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Darpa), parte do Departamento de Defesa dos EUA.

O objetivo não é simplesmente mostrar que um robô pode voar. Hoje a maioria das aeronaves americanas é teleguiada, e as aeronaves comerciais percorrem a maior parte de suas rotas em piloto automático. A meta do novo programa é usar robôs para aumentar a atuação humana, em vez de automatizar o voo.

O Alias, que significa Aircrew Labor In-Cockpit Automation System (sistema de automação do trabalho da tripulação na cabine), é uma criação de Daniel Patt, engenheiro aeronáutico. Ele se inspirou em J.C.R. Licklider, pioneiro da Darpa que descreveu sua visão em um ensaio de 1960 intitulado "Simbiose Homem-Computador", que previa um mundo onde seria difícil distinguir entre "as contribuições de operadores humanos e do equipamento".

Um artigo na "Harvard Business Review" abordou algumas das preocupações comuns: "E se, em vez de fazer a pergunta tradicional –Que tarefas atualmente realizadas por humanos serão em breve feitas com menor custo e mais rapidez por máquinas?–, fizermos uma nova: Que novas realizações as pessoas alcançariam se tivessem máquinas pensantes melhores para ajudá-las?".

O programa Alias tenta atingir um novo equilíbrio entre humanos e máquinas. A Darpa contratou três empresas aeroespaciais concorrentes para construir protótipos de um copiloto robô.

Além da Aurora, trabalham para o projeto da Darpa as gigantes Lockheed Martin e Sikorsky Aircraft.

O desafio é criar um robô que possa ser reconfigurado para uma nova aeronave em um mês e instalado no lugar do assento do copiloto em um único dia.

O sistema deve ser capaz de voar a missão completa, mas se destina a trabalhar em conjunto com um piloto humano.

Quando o robô Alias tiver seu hardware terminado, será possível instalá-lo em diversos aviões e experimentar diferentes maneiras de dividir a tarefa de voar entre humanos e robôs.

A instrumentação nas aeronaves de hoje oferece diversas listas de checagem eletrônicas, que são mal projetadas e muitas vezes não utilizadas pelos pilotos, segundo engenheiros da Aurora.

A Aurora busca maneiras de tornar as listas de checagem parte orgânica do controle da aeronave. Por exemplo, no caso de uma falha do motor, o Alias reconhecerá a situação e automaticamente apresentará ao piloto informações relevantes, assim como uma lista de medidas necessárias para controlar o avião. Eventualmente, o sistema observará todas as operações na cabine e terá a capacidade de alertar os pilotos humanos para qualquer erro.


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