Folha de S. Paulo


Sonda revela desabamentos em superfície de cometa

A superfície de um cometa parece não ser lá um lugar dos mais estáveis. Os últimos resultados da sonda Rosetta sugerem que eles costumam sofrer grandes desabamentos súbitos conforme se aproximam mais e mais do Sol.

O trabalho, publicado por um grupo de mais de 60 pesquisadores na última edição do periódico científico britânico "Nature", revela as vantagens de ter uma espaçonave acompanhando um cometa enquanto ele avança em sua órbita até atingir o periélio _a máxima aproximação solar.

As sondas americanas Deep Impact e Stardust já haviam observado esses terrenos afundados nos núcleos dos cometas 9P/Tempel 1 e 81P/Wild 2, mas, sem a possibilidade de acompanhar sua evolução, não puderam confirmar como se originam.

Eles são claramente diferentes de crateras de impacto e agora, com a Rosetta, Jean-Baptiste Vincent, do Instituto Max Planck, e seus colegas puderam observá-los em detalhes, na superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.

Ao que tudo indica, o terreno afunda por conta do colapso de cavernas subterrâneas no núcleo do cometa. Mas de onde vêm as cavernas?

ORIGEM ANTIGA

Cometas são basicamente remanescentes da formação do Sistema Solar, ocorrida 4,6 bilhões de anos atrás. Eles são simples agregados de rocha, gelo e poeira, mantidos juntos apenas pela ação da gravidade.

Resultados anteriores colhidos pela Rosetta indicam que o núcleo do "Chury", como foi apelidado seu alvo científico, é muito poroso –cheio de vazios internos, como uma esponja.

Esses vazios devem aumentar conforme o cometa se aproxima do Sol, esquenta, e mais gelo presente em seu interior evapora, dando origem à famosa cauda.

"Aparentemente, esses vazios subterrâneos crescem com o tempo até que a camada superior se torna instável e afunda", explica Holger Sierks, um dos autores do estudo e cientista-chefe da principal câmera da Rosetta, a Osiris.

O periélio do Chury acontece em agosto, e dará à sonda um novo senso de propósito, conforme mais e mais gelo evapora. "Após o periélio, a remoção de material irá permitir acesso a conteúdo pristino, original, não alterado, de sua época de formação", disse Sierks à Folha. "Isso será ótimo."

Em paralelo, os engenheiros trabalham para obter uma conexão estável com o Philae, módulo que pousou no cometa em novembro e voltou a operar no mês passado. Com tanta coisa acontecendo, é bem possível que o melhor da missão Rosetta ainda esteja por vir.


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