Folha de S. Paulo


Azar genético explica preferência do Aedes aegypti por algumas pessoas

Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres
Gêmeas idênticas colocam as mãos em um tubo em forma de Y preenchido com mosquitos para ver quão atraente é o cheiro de cada uma.
Gêmeas idênticas participam de experimento com mosquitos para ver quão atraente é o cheiro de cada

Enquanto alguns sofrem, outros escapam incólumes. É comum, em qualquer lugar com mosquitos, que algumas pessoas sejam alvos preferenciais das picadas.

Cientistas britânicos resolveram testar a hipótese de que esse fenômeno indesejável tem a ver com a combinação de genes que recebemos de nossos pais.

Já se sabia que o cheiro era o fator que promovia a atração dos mosquitos, mas não se esse odor favorável poderia ser explicado pelos genes que carregamos.

Editoria de arte/Folhapress
Gemeos dengue

Se isso estivesse certo, gêmeas idênticas atrairiam mosquitos com maior "intensidade" do que gêmeas fraternas (não idênticas).

Para colocar a ideia à prova, cientistas pediram a cada par de irmãs que colocassem uma das mãos cada nas duas extremidades de um tubo em Y –chamado de olfatômetro.
Do outro lado, fêmeas do Aedes aegypti eram liberadas e a quantidade de mosquitos que escolhia cada pessoa pelo cheiro era contada.

O estudo, que foi publicado na revista científica "Plos One", encontrou uma concordância que varia entre 62% e 83%.

"Isso significa dizer que a herança genética pode ser responsável por até 83% da atração exercida por algumas pessoas aos mosquitos, um valor alto", explica a professora titular de genética da Universidade Federal de São Paulo Marilia Cardoso Smith.

"Ainda sobra até 38% de participação para outros fatores, como a alimentação e outras influências ambientais", diz Marilia.

Estudos com gêmeos univitelinos (idênticos) e bivitelinos (fraternos) são uma ferramenta importante para o estudo de fatores genéticos de características individuais e mesmo de doenças.

HIPÓTESES

Os cientistas não sabem explicar exatamente como os genes ajudam a atrair ou repelir mosquitos. Pode haver tanto genes que aumentam a atratividade para os insetos quanto genes responsáveis por repelentes gerados pelo próprio organismo.

Um dos candidatos é o MHC, uma região do genoma importante para a compatibilidade entre doador e receptor de órgãos e que sabidamente também influencia a atração sexual, também pela via olfativa.

Segundo Paulo Ribolla, professor do Instituto de Biociências de Botucatu, da Unesp, o estudo serve de marco para que se preste mais atenção aos fatores genéticos, que, assim como as bactérias e os fungos que as pessoas carregam, contribuem para decidir quem será ou não picado.

Reprodução/Plos One
Uma das fêmeas do Aedes aegypti utilizada no experimento com os gêmeos para saber se o cheiro que faz humanos atrairem mosquitos podem ser explicados pela genética
Fêmea do Aedes aegypti utilizada no experimento que investigou o porquê das picadas em alguns

Genes do MHC, de alguma forma, produziriam moléculas capazes de definir quais bactérias e fungos habitariam nosso organismo. Essa flora é uma das candidatas a responsável direta pela atração ou repulsão dos mosquitos.

O próximo passo da pesquisa é descobrir exatamente quais são os genes responsáveis por esse odor que atrai ou repele mosquitos, diz o entomologista James Logan, que liderou a pesquisa na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

"Se entendermos a base genética da variação entre indivíduos, talvez seja possível desenvolver maneiras de controlar melhor os mosquitos e repeli-los. No futuro, poderíamos até mesmo tomar uma pílula que poderia promover a produção de repelente natural pelo organismo, substituindo cremes e loções."

Veja abaixo vídeo de divulgação da pesquisa, em inglês:

Veja vídeo (em inglês) que explica experimento com gêmeos


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