Folha de S. Paulo


Análise: LHC vai ter de provar que ainda serve para alguma coisa

O LHC voltará a funcionar e sua missão não será nada simples: ele precisa provar que ainda serve para alguma coisa.

Não que faltem mistérios a explorar na física de altas energias. O que falte talvez é energia para explorá-los.

É verdade que agora o acelerador atingirá seu potencial pleno, dobrando a energia até então empregada nas colisões de partículas. O problema é que não há garantia alguma de que exista alguma coisa ali a ser descoberta.

A busca pelo bóson de Higgs foi a justificativa para a construção do LHC, mas não foi uma investigação às cegas. Os aceleradores que o precederam, sobretudo o Tevatron, do Fermilab, nos Estados Unidos, já sugeriam que ele seria encontrado.

O que vem agora? Com certeza o LHC continuará a investigar as características do Higgs e verificar se elas condizem com as previsões feitas pelo modelo padrão da física de partículas.

Contudo, os físicos sabem que é muito pouco –e sabem que o futuro das pesquisas está em jogo.

O desafio imediato é encontrar alguma nova partícula que possa fazer o papel da misteriosa matéria escura.

Há modelos teóricos para todos os gostos, e pelo menos em alguns deles o LHC talvez possa ser suficiente.

Mas o que o acelerador precisa mesmo é encontrar alguma coisa nova –qualquer coisa nova, ainda que não fique claro do que se trata.

Isso, por duas razões. Primeiro porque não encontrar nada significa reafirmar o abismo que existe atualmente entre as teorias na fronteira da física e a capacidade de testá-las experimentalmente.

Segundo porque a ausência de evidência de "algo mais", o que quer que seja, colocará em maus lençóis tentativas de vender projetos ainda mais energéticos e poderosos para o futuro. Como justificar, US$ 10 bilhões depois, que não foi desta vez, mas na próxima, digamos, por outros US$ 20 bilhões, vamos chegar lá?

Não é à toa que alguns físicos, com diz Rogério Rosenfeld, da Unesp, estão sofrendo com "PHD" –post-Higgs depression, ou depressão pós-Higgs. É uma brincadeira, mas com aquele típico fundo de verdade.


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