Folha de S. Paulo


Olimpíadas podem ser uma ponte para a matemática 'real', diz Artur Ávila

7.ago.2014/Mastrangelo Reino/Caixapreta/Folhapress
Artur Ávila durante aula para um aluno do Institut de Mathematique de Jussieu-Paris, onde é coordenador de pesquisa
O ganhador da Medalha Fields Artur Ávila durante aula para um aluno de pós-doutorado, em Paris

O primeiro sul-americano a ganhar a medalha Fields, prêmio da matemática equiparado ao Nobel, iniciou seu mestrado aos 17 anos no Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada) e concluiu o doutorado aos 22, no mesmo ano em que se formou em matemática, por mera formalidade, na UFRJ.

Entre outras coisas, ele diz que as olimpíadas são uma maneira eficiente de se procurar talentos em matemáticas. E que se tivéssemos de esperar uma revolução no ensino "levaria décadas".

Veja conversa que teve com a Folha.

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Folha - É comum haver casos de pós-graduação antes mesmo da graduação?

Artur Ávila - Não, e isso não ocorre de maneira sistemática, mas se tem algum lugar em que isso de alguma maneira "se concentra", é no Impa.

Por quê?

O Impa é um caso particular. Não é uma universidade. Não precisa primeiro receber o aluno na graduação e depois "acelerar". Ele os recebe em qualquer situação.

Qual é a vantagem de ter essa via aberta?

É bom ter essa opção, que se encaixa em alguns casos. Mas tem que ter muita atenção com os alunos, que podem ficar muitos vislumbrados e também avaliar se esse é realmente o melhor caso para cada um.

De onde veio seu interesse por trilhar esse caminho?

Tive uma interação muito grande com as olimpíadas e acabei descobrindo que, no Impa, um colega havia feito isso, de se matricular no mestrado ainda durante o segundo grau. Achei que fosse uma boa possibilidade pra mim.

O Impa me deu uma bolsa de iniciação científica e eu fui bem. Estava no segundo semestre do segundo ano do ensino médio.

Foi difícil o começo?

Eu comecei a fazer os cursos e não senti falta de nenhum conhecimento anterior. Eles começam da base. Você não precisa de conhecimento da graduação. E aí cada curso vai exigir o conhecimento adquirido no curso anterior. Era possível aprender "do zero".

O que você acha das olimpíadas de matemática funcionarem como um caça-talentos?

O que se apresenta nas olimpíadas geralmente é muito mais interessante do que se apresenta no curso regular. O contato com as olimpíadas pode gerar uma nova relação com a matemática. Aquilo que era chato pode passar a ser interessante.

A ponte que as olimpíadas fazem com a matemática real, de pesquisa, também é importante. A pessoa pode descobrir que ela pode ter aquilo como profissão.

É uma boa maneira de mostrar matemática para quem não tem acesso a um bom ensino. Se tivermos que esperar uma revolução, levaria décadas.

Existem outros métodos para se "descobrir a matemática"?

As vezes as pessoas criticam como se essa [olímpíada] fosse a única via, mas é uma falta de compreensão. É um meio eficiente, mas sem desmerecer qualquer outro método. A pessoa pode não gostar do formato e de como são as olimpíadas e se dar muito bem na carreira.


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