Folha de S. Paulo


Nova tecnologia, velas solares podem permitir viagens interestelares

Navegar nos ventos da luz solar há muito tempo é um sonho dos cientistas espaciais.

A ONG Sociedade Planetária, que promove a exploração do Espaço, anunciou que pretende colocar em órbita em maio a primeira de duas pequenas sondas que testarão a tecnologia de velas solares, pegando carona num foguete Atlas 5.

"Acreditamos que isso poderá vir a ser parte importante do futuro das missões interplanetárias", disse o executivo-chefe da organização, William Sanford Nye –mais conhecido como Bill Nye the Science Guy.

Josh Spradling/The Planetary Society
Representação artística de voo da LightSail, com Via Láctea ao fundo; sonda será lançada em maio
Representação artística de voo da LightSail, com Via Láctea ao fundo; sonda será lançada em maio

Quando os fótons –partículas de luzâ– rebatem numa superfície brilhante, eles liberam um pouco de impulso, um efeito descrito em equações pelo físico James Clerk Maxwell em 1860. Em sua novela "Da Terra à Lua" (1865), Júlio Verne parece ter sido o primeiro a perceber que essa força poderia ser aproveitada para viagens espaciais.

Ao ser lançada, a nave da Sociedade Planetária, chamada LightSail, terá o tamanho de um pão de forma –10,6 cm de altura, 10,6 cm de largura e 30,48 cm de comprimento. Em órbita, ela será submetida a um mês de testes antes de estender seus quatro braços, de 3,96 m cada, abrindo quatro pedaços triangulares de um material chamado Mylar, de modo a formar uma vela com quase 32 metros quadrados.

O voo de maio servirá para confirmar que a abertura da vela e outros sistemas funcionam corretamente. Mas, na altitude em que a LightSail estará voando, o arrasto de ar na vela será maior do que a pressão da luz. Por isso, a sonda sairá de órbita e se queimará em poucos dias.

No ano que vem, uma segunda sonda LightSail será levada até uma altura de 724 km por um foguete Falcon Heavy. Esse voo será o primeiro destinado a demonstrar uma navegação controlada a vela solar na órbita da Terra. "A ideia é ser capaz de direcionar a nave como um veleiro em cada órbitaâ", disse Nye.

As duas LightSails foram fabricadas por menos de US$ 4 milhões, segundo Nye.

Na década de 1970, a Nasa cogitou usar velas solares para uma missão que se encontraria com o cometa Halley em 1986. Mas essas velas imensas foram consideradas um salto tecnológico arriscado demais. "Era muito ousado para a época", disse Louis Friedman, que foi o coordenador do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa responsável pelo projeto.

Ele deixou a agência espacial norte-americana em 1980 e ajudou a fundar a Sociedade Planetária.

A Nasa desistiu da missão ao cometa, e as velas caíram em desuso na agência espacial.

Uma década atrás, a Sociedade Planetária colaborou com cientistas russos numa sonda espacial a vela solar, chamada Cosmos 1, que foi lançada em junho de 2005 de um submarino nuclear russo. Mas o foguete falhou, e a Cosmos 1 se perdeu.

A sociedade voltou-se então para algo menor, a LightSail, aproveitando uma nova geração de satélites menores e mais baratos, conhecidos como CubeSats.

O interesse pelas velas solares também foi reavivado na Nasa, que testou o seu próprio CubeSat, chamado NanoSail-D, em 2011, demonstrando como uma vela poderia ser usada para empurrar satélites desativados de volta à atmosfera.

O Japão já enviou uma vela solar para uma viagem interplanetária. Sua sonda Ikaros foi lançada em maio de 2010 e passou por Vênus no final daquele ano.

No futuro, as velas poderiam nos levar para as estrelas. A luz do Sol seria fraca demais para essa viagem, mas um laser gigante direcionado para a uma vela enorme poderia fornecer a aceleração necessária. Nem esses lasers nem velas suficientemente grandes existem hoje, mas, na opinião de Friedman, "essa é a única tecnologia que pode nos levar a uma viagem interestelar".


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