Folha de S. Paulo


Análise: Ainda existem muitos nós em aberto na pesquisa em climatologia

Eis um resumo em três palavras da pesquisas sobre o clima: baita troço difícil.

Não é sem razão que cientistas dizem que o clima pertence ao campo dos "sistemas complexos". As pesquisas lidam com interações complicadas entre fenômenos muito diversos, como correntes atmosféricas e marítimas, temperatura do ar, mar e solo, formação de nuvens e geleiras, incidência solar e –para piorar– a relação disso tudo com processos biológicos e até sociais (como o desmatamento).

Pequenas alterações em qualquer elemento desses podem mexer com o sistema inteiro. Daí a dificuldade de fazer previsões acuradas na meteorologia, por exemplo.

Para tentar entender como o clima da Terra funciona, a principal ferramenta dos cientistas é fazer simulações computacionais com os diversos fenômenos acima e testar se eles explicam alguma coisa.

Tais modelos, porém, são irremediavelmente simplificações da realidade. Dependendo de como são construídos, podem levar inclusive a conclusões opostas.

A publicação em uma reputada revista científica de um estudo questionando a capacidade de o aquecimento global criar mais tempestades mostra que ainda há muitos nós em aberto na climatologia. E o fato de ele já estar sendo questionado por outros cientistas só reforça que simulações climáticas devem ser tomadas com um grão de sal.

Ativistas podem preferir a certeza, sempre mais mobilizadora, mas a prudência é típica da ciência, cujo repertório está em permanente questionamento e reconstrução. Não se trata de ceticismo climático. O desafio dos climatologistas é justamente convencer público e governos de que é necessário reduzir emissões e, ao mesmo tempo, ter transparência sobre as limitações do nosso conhecimento.

A solução passa pela cautela do climatologista Carlos Nobre, em entrevista à Folha na segunda (26): o fato de o aquecimento ser preocupante não significa que se possa sair atribuindo tudo a ele.


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