Folha de S. Paulo


Beijo é usado para testar e reforçar sistema imunológico do parceiro

De todos os comportamentos humanos, um dos mais curiosos é o beijo. Colocar a boca junto à de outra pessoa pareceu ser uma boa ideia em 90% de todas as culturas conhecidas, mas o comportamento é raramente visto em animais –até há algum contato labial aqui e ali, mas nada que pudesse fazer um observador indiscreto falar "uau, que baita amasso".

Alguns cientistas decidiram estudar o papel do beijo, como um grupo da Universidade de Oxford. Uma das principais descobertas é que a seleção de parceiros é mediada pelo beijo –os humanos parecem ter desenvolvido a capacidade inconsciente de analisar o sistema imunológico de um potencial parceiro sexual dessa maneira.

Editoria de Arte/Folhapress

Diferentes estudos com voluntários têm mostrado que o nível do hormônio oxitocina, relacionado com o afeto e com o desejo, sobe quando encontramos um parceiro com um sistema imune significativamente diferente do nosso. Faz sentido: provavelmente, um eventual filho teria um sistema imunológico mais variado e, assim, provido de maiores recursos para se proteger de doenças.

Pesquisas similares mostram também que homens, especificamente, conseguem ainda avaliar instintivamente os níveis de estrógeno –e, portanto, de fertilidade– da mulher beijada, apontou Helen Fisher, professora Universidade Rutgers, nos EUA.

Tal fenômeno ocorre também pelos feromônios, moléculas que o corpo utiliza para enviar informações via olfato (o cheiro é criado pelo próprio corpo, ignore quem queira vender perfumes com feromônios que tornam qualquer um irresistível: eles simplesmente não funcionam).

Outra explicação foi apontada por um grupo de pesquisadores holandeses. As bactérias da boca têm um papel importante no sistema imunológico humano, e eles descobriram que, quando um casal se beija, troca 80 milhões delas em apenas dez segundos –assim, o repertório de micróbios "do bem" de cada uma das partes fica cada vez mais variado e robusto.

Essa noção do beijo como reforço do sistema imunológico, de um ponto de vista evolutivo, pode ter se desenvolvido a partir de um comportamento comum no reino animal: a mãe que mastiga os alimentos antes de passá-los pela boca aos filhotes.

Até mesmo a "estratégia" de aumentar a intensidade do beijo aos poucos ajuda o corpo a "engrenar os motores imunológicos", e se proteger, por exemplo, contra o citomegalovirus humano, que pode causar febres e dores.

PERIGO

Nem tudo é cor-de-rosa, porém. Por trás de um beijo podem se esconder alguns perigos como a mononucleose e doenças respiratórias.

Conhecida como doença do beijo, a mononucleose é uma doença viral que afeta especialmente os jovens, recém-ingressantes na prática.

"O organismo ainda não está preparado para a exposição", diz a infectologista Graziella Hanna, do Hospital Santa Cruz. A médica ainda diz que outras doenças como herpes também são transmitidas pelo beijo e, de certo modo, é difícil escapar. "Quase toda população adulta já teve contato com o vírus".

Pela proximidade entre os rostos, também há chance de transmissão de doenças respiratórias como gripe e tuberculose. Apesar de tudo, a médica diz a precaução que deve ser tomada é evitar o contato na presença de sintomas respiratórios como espirros, secreção nasal e tosse.

Outra descoberta científica, esta ainda um pouco mais misteriosa, se refere ao maior desejo feminino por beijos. Um pesquisador da Universidade do Estado de Nova York acompanhou mais de 500 casais e descobriu um repetitivo padrão: as mulheres valorizavam mais o beijo do que os homens, tanto antes do sexo quanto no longo prazo, em relacionamentos antigos.

Para a sexóloga Débora Pádua, sem o beijo é mais difícil progredir para a excitação, onde já há alterações fisiológicas como a lubrificação na mulher, por exemplo.

"Os casais tem que incluir o beijo no dia a dia, não só antes do sexo. No começo é mecânico, mas isso acaba criando uma nova e melhor rotina. Se as mulheres pensassem mais em sexo, o mundo seria melhor... E os homens mais felizes", diz


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