Folha de S. Paulo


Cientistas acham um possível sinal da matéria escura

Escarafunchando dados colhidos com um telescópio espacial de raios X, um quarteto de cientistas europeus sugere ter encontrado um possível sinal emanado de partículas de matéria escura.

Ninguém sabe bem do que ela é feita, o que é um problema quando se considera que ela responde por cerca de 80% de toda a matéria do Cosmos.
A questão é que ela não é visível nem é feita das partículas convencionais, como as que formam átomos e moléculas. Ela deve ser feita de algo que não interage de maneira nenhuma com a matéria convencional, exceto pela gravidade (razão pela qual afeta a rotação das galáxias).

Por ser tão sutil, até agora ninguém conseguiu detectá-la e descobrir do que se trata.

O novo achado pode ser uma primeira pista. O trabalho saiu no periódico científico "Physical Review Letters", mas não está livre de controvérsias. Tanto que levou quase um ano para que ele fosse aceito para publicação.

Os pesquisadores liderados por Alexey Boyarsky e Oleg Ruchayskiy, da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, usaram observações do satélite XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia, e encontraram nelas uma certa emissão em raios X que não tem explicação conhecida.

As observações analisadas eram focadas na galáxia de Andrômeda e no aglomerado de Perseu, dois objetos a distâncias bastante diferentes, ambos dominados pela presença de matéria escura.

Em ambos, os cientistas encontraram um sinal fraco consistente com a emissão de raios X decorrente do decaimento de partículas de matéria escura. Segundo eles, o sinal não aparecia na análise de emissões vindas de uma região "vazia" do céu -ou seja, não seria só ruido.

Segundo eles, essa emissão seria consistente com o decaimento de certas partículas chamadas de "neutrinos estéreis", versões exóticas dessas partículas que só interagem por meio da força gravitacional –exatamente como se espera da matéria escura.

Corrobora a detecção o fato de que um segundo grupo de cientistas, analisando outros aglomerados galácticos, fez medições similares.
Mas tudo ainda é mais um enigma que uma resposta. Boyarsky e seus colegas sugerem que um novo satélite de raios X japonês, o Astro-H, com lançamento marcado para 2016, poderia refinar e confirmar a detecção .

Caso os pesquisadores estejam na trilha certa, a descoberta pode ajudar a colocar a física numa nova era.


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