Folha de S. Paulo


Nasa testa cápsula que permitirá novas missões tripuladas ao espaço

Amanhã, a Nasa retoma uma trajetória interrompida em 1972, quando a última espaçonave Apollo retornou da Lua. Se a meteorologia permitir, a agência fará o primeiro ensaio em voo de sua nova cápsula para a exploração tripulada do espaço profundo.

O primeiro teste se limitará a duas voltas em torno da Terra, realizadas em pouco mais de quatro horas, e o veículo voará sem tripulação.

Ainda assim, a Órion, como é chamada a nova cápsula americana, atingirá uma altitude de 5.800 km, cerca de 14 vezes mais que a órbita da Estação Espacial Internacional.

Voo da capsula Órion

É um pequeno passo para uma sonda não tripulada, mas um salto gigantesco para os astronautas americanos, que passaram os últimos 42 anos limitados a órbitas terrestres baixas em torno da Terra.

FAMILIARIDADE

A Órion é uma versão maior e mais sofisticada das antigas naves que levaram à conquista da Lua na década de 1960.

Com capacidade para quatro astronautas (as Apollos só levavam três), ela parte amanhã impulsionada por um foguete Delta IV Heavy, sem capacidade para enviar a cápsula além da órbita terrestre.

O veículo lançador que fará isso no futuro ainda não está pronto. Chamado de SLS (Space Launch System), ele será o equivalente moderno do Saturn V. Mas seu primeiro voo só deve acontecer em 2017, e projeções recentes dão conta de que a missão pode escapar para 2018.

Por conta disso, a Nasa não antecipa que algum astronauta americano vá deixar a segurança das órbitas terrestres baixas rumo ao espaço profundo antes de 2021.

A questão é: para onde eles vão?

PLANOS EM MOVIMENTO

Originalmente, a Órion havia sido concebida para que a Nasa retomasse missões tripuladas ao solo lunar.

Esse plano havia sido apresentado pelo então presidente George W. Bush, em resposta à comissão de investigação do acidente com o ônibus espacial Columbia, ocorrido em 2003.

Com a chegada de Barack Obama à Casa Branca, um comitê foi encarregado de revisar o andamento do programa tripulado, e ficou claro que a iniciativa não tinha os fundos necessários.

De início, Obama quis cancelar tudo, mas o Congresso impediu a degola e manteve algumas peças-chave, como a Órion e o foguete de alta capacidade.

O presidente americano, por sua vez, redirecionou a estratégia de longo prazo. Em vez de um retorno tripulado à Lua, estipulou que o objetivo de ínterim deveria ser a visita a um asteroide, e a meta final, uma viagem a Marte.

Ainda não há nada além de um esboço de como isso iria acontecer. Tampouco cronograma. No máximo, fala-se no fim da década de 2030.

Congresso e comunidade científica também se dividem sobre o mérito da missão ao asteroide. Não é impossível que uma nova mudança de humor leve a reformulações no futuro. Seja qual for o destino, aos trancos e barrancos, os EUA começam agora a reconstruir a infraestrutura tecnológicas para a exploração do espaço profundo.

Não por acaso, a China está prestes a fazer movimento similar. Apesar de seu programa espacial ser largamente secreto, eles não escondem o desejo de empreender viagens à Lua na próxima década.

"A água bateu no pescoço", diz Cássio Leandro Barbosa, astrônomo da Univap. "Com a China quase pousando na Lua, os americanos tinham de se mexer."

Pode até ser o início de uma nova corrida espacial. Para evitar isso, gente como Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua, defende que os americanos devessem se aliar aos chineses na exploração do espaço profundo, ajudando-os a visitar o solo lunar.

"Uma coisa é certa: eles irão de qualquer jeito", disse à Folha o ex-astronauta.


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