Folha de S. Paulo


Pesquisador estava no Brasil quando soube que recebeu Nobel de química

O americano William Moerner estava em Recife na manhã desta quarta (8) quando recebeu a notícia de que tinha sido laureado com o Nobel de química.

Ele tinha dado uma palestra, na segunda-feira (6) na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), no 3º Workshop Internacional sobre Fundamentos da Interação Luz-Matéria.

Segundo a universidade, Moerner retornou aos EUA no início da tarde.

Diego Nigro/JC Imagem/Folhapress
 William Moerner, ganhador do prêmio Nobel em Química, no hotel Recife Praia Hotel, na Praia de Boa Viagem em Pernambuco
William Moerner, ganhador do prêmio Nobel em Química, no hotel Recife Praia Hotel, na Praia de Boa Viagem em Pernambuco

O pesquisador contou à equipe do Nobel que soube do prêmio por um telefonema de sua mulher, às 7h (no horário brasileiro), que ligou após ser procurada por um repórter da Associated Press.

Ele afirmou ter tido que cancelar compromissos que ainda teria no país por conta do prêmio. "Fiquei com aquela sensação: 'O que faço agora? Vou a essa reunião ou pego um avião para a Califórnia?' Muitas coisas mudam de repente quando você recebe notícias incríveis como essa, e estou muito feliz pelo reconhecimento do campo e pelos trabalhadores e cientistas em muitos lugares do mundo que contribuíram para esse esforço", disse ele, ainda no Brasil.

O PRÊMIO

O Prêmio Nobel de Química foi dado a três pesquisadores que, trabalhando separadamente, superaram um limite da ciência estabelecido em 1873: quão pequeno pode ser um organismo vivo enxergado por um microscópio.

No século 19, o microscopista Ernst Abbe estipulou o limite físico para a resolução da microscopia tradicional, que usa luz para enxergar: 0,2 micrômeros.

Dois americanos, Eric Betzig, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes, e William Moerner, da Universidade Stanford, e Stefan Hell, do Instituto Max Planck, da Alemanha, trabalharam separadamente nesse problema.

A chave foi usar fluorescência: fazer as moléculas das células brilharem para aumentar o foco e a resolução do microscópio.

Antes, para enxergar estruturas muito pequenas, como as partes de uma célula ou um vírus, era preciso usar microscopia eletrônica, que não pode ser empregada em estruturas vivas, porque requer fatiar a amostra.

Com o trabalho dos três, foi possível ver a dinâmica das células, entender como elas funcionam e o que acontece quando elas estão doentes, por exemplo.

Em 2000, Stefan Hell desenvolveu um método que usa dois feixes de laser: um estimula o brilho de moléculas fluorescentes e o outro elimina toda a fluorescência que não esteja na escala desejada. Assim, é possível
fazer uma varredura só no nível nanométrico.

Betzig e Moerner criaram um método para estudar molécula por molécula, ligando e desligando a fluorescência em cada uma delas. São feitas diversas varreduras na amostra até que se documentem todas as moléculas desejadas. A sobreposição das imagens cria uma imagem de altíssima resolução em nível molecular, e foi usada pela primeira vez em 2006 por Betzig.

Os três vão dividir igualmente o prêmio de 8 milhões de coroas suecas (R$ 2,6 milhões).

O Nobel de Química foi o terceiro deste ano, depois dos de Medicina e Física.

O prêmio leva o nome do inventor da dinamite Alfred Nobel e é concedido desde 1901 para realizações na ciência, literatura e busca da paz, de acordo com o estipulado por ele em seu testamento.


Endereço da página:

Links no texto: