Folha de S. Paulo


Revista científica com caso de plágio teve maior 'impacto' do Brasil em 2013

A revista científica brasileira com maior fator de impacto em 2013 foi a "D&MS" ("Diabetology and Metabolic Syndrome"), publicada pela Sociedade Brasileira de Diabetes. Em segundo lugar, ficou a "Revista Brasileira de Psiquiatria", que foi a primeira colocada em 2012. O terceiro lugar ficou para "Memórias do Instituto Oswaldo Cruz", que teve a mesma posição na classificação anterior.

Apesar do sucesso na lista, a revista "D&MS" se viu em uma polêmica em maio. A então editora-chefe da publicação, que naquele mês se desligou do cargo, teve um trabalho retratado (despublicado) por conta de plágio.

O fator de impacto das revistas científicas de padrão internacional é feito pela Thomson Reuters e seu ranking anual é divulgado pelo seu "JCR" ("Journal of Citations Report"). Calculado com base na média de citações de artigos científicos em anos anteriores, o indicador é usado como um dos principais indicativos de qualidade e relevância de uma publicação.

"A 'D&MS', faz, desde seu lançamento em 2009, um trabalho muito forte de buscar artigos de qualidade e de divulgar esse material", explica Luciana Christante, editora de aquisições da BioMed Central, que publica o periódico brasileiro.

"O sucesso atrai os pesquisadores de fora. Hoje, só 10% dos artigos são de brasileiros. Com o aumento do fator de impacto, a procura deve aumentar ainda mais", completa Christante.

"O desafio agora é não deixar o fator de impacto cair. E nós sabemos que tem muito espaço para crescer", diz ela, destacando o trabalho do médico Daniel Giannella-Neto, editor-chefe da publicação.

O "JCR" de 2013 também marcou o retorno à lista de quatro revistas médicas brasileiras suspensas por má conduta no ano passado. Duas delas, a "Clinics", do Hospital das Clínicas da USP, e o "Jornal Brasileiro de Pneumologia", voltaram a figurar entre as dez primeiras posições dos periódicos brasileiros.

Segundo a Thomson Reuters, foram analisados cerca de 10,8 mil periódicos de 83 países.

ESTRANGEIRAS

Outra novidade do ranking dos periódicos de maior fator de impacto em 2013 foi o aumento da presença de editoras científicas estrangeiras. No Brasil elas buscam incorporar as revistas de maior prestígio e de critérios editoriais mais rigorosos. O país tem 522 revistas científicas que integram a plataforma eletrônica SciELO, mantida pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em parceria com a Bireme (Biblioteca Regional de Medicina)

As editoras científicas seguem normas de avaliação e aceitação de artigos de que se aplicam a todos os seus periódicos, que são publicados em versões impressas e eletrônicas em seus próprios domínios na internet.

Além de ser proprietário da BioMed Central, editora da primeira colocada "D&MS", o grupo alemão Springer Verlag também publica a quinta colocada "Brazilian Journal of Botany". Ambos os periódicos aparecem pela primeira vez entre as 20 posições iniciais.

Juntos, o grupo alemão e sua afiliada britânica editam 15 revistas do Brasil, onde a holandesa Elsevier, a maior do mundo na área científica, também publica 15 títulos, entre os quais "Brazilian Journal of Infectious Diseases", em 12º no ranking, "Revista Brasileira de Reumatologia", em 15º, e "Jornal de Pediatria", em 20º.

"Não há dúvida de que essa é uma tendência salutar", afirma o bioquímico Rogério Meneghini, diretor científico da SciELO, sobre a migração para editoras científicas internacionais, ressaltando que essas empresas têm elevados padrões de qualidade de avaliação e revisão de artigos e eficiência muito maior na divulgação que as associações fundadoras de revistas.

De acordo com Meneghini, a desvantagem em relação à edição "caseira" é o custo. "Esses publishers estrangeiros ganham muito. Alguns deles chegam a ter uma margem de 35% sobre a taxa de publicação paga pelos autores dos artigos ou por suas instituições", disse ele.


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