Folha de S. Paulo


Brasileiro vencedor da Medalha Fields terminou o doutorado aos 21 anos

O matemático Artur Avila, 35, que recebeu na noite desta terça (12) a Medalha Fields, popularmente conhecida como o "Nobel da matemática", fez toda a sua formação no Brasil, situação rara no caso de pesquisadores de países em desenvolvimento que despontam precocemente.

Nascido no Rio de Janeiro, Avila é pesquisador do Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada) e do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica, órgão de pesquisa do governo francês). Desde 2009, Avila desfruta de uma situação bastante particular entre seus pares, dividindo suas atividades de pesquisa entre Paris e o Rio de Janeiro.

"Tenho posições de pesquisador em tempo integral na França e no Brasil, sem compromisso com ensino. A qualquer momento eu posso ir de um país para o outro", conta.

Mastrangelo Reino/Folhapress
Artur Avila, em Paris, em foto que usou técnica de múltipla exposição
Artur Avila, em Paris, em foto que usou técnica de múltipla exposição

Considerado um dos matemáticos mais talentosos de sua geração, o brasileiro vinha sendo citado nos últimos anos como forte candidato ao prêmio.

Ele começou a frequentar o Impa aos 16 anos, ainda no ensino médio, após ter ganho a medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática de 1995.

No ano seguinte, iniciou o mestrado no instituto. Concluiu o doutorado em matemática na mesma instituição aos 21 anos, na mesma semana em que pegou o diploma de graduação.

"A conquista do Artur mostra como é acertada a política do Impa de permitir que alunos de qualquer idade assistam às nossas aulas e tenham contato com os pesquisadores", diz César Camacho, diretor-geral do Impa.

Artur não ignora o impacto que a conquista da Medalha Fields pode ter no Brasil.

"Para o público brasileiro esse prêmio vai servir para mostrar que existe pesquisa em matemática, que ela é uma área viva. Além disso, ele vai mostrar que não é só nos Estados Unidos ou na Europa que se faz pesquisa de ponta. Tira um pouco do complexo de vira-lata da comunidade científica brasileira."

Ele diz que não possui propriamente uma rotina de trabalho. "Se eu estou envolvido em um projeto que está indo muito bem, trabalho o tempo todo; agora, se estou meio perdido, o que acontece na maior parte do tempo, deixo a coisa rolar até aparecer alguma coisa, enquanto isso me ocupo com as atividades do dia a dia."

Questionado sobre o que o fazia escolher um problema para trabalhar, resumiu: "Beleza, mas isso eu não sei explicar".


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