Folha de S. Paulo


Sonda europeia chega a cometa e prepara pouso

Se tudo correr bem, nesta quarta-feira (6), após uma viagem de dez anos pelo espaço sideral, a sonda europeia Rosetta se tornará a primeira nave a entrar na órbita de um cometa.

Um disparo de seis minutos e 26 segundos dos propulsores da sonda, marcado para as 6h da manhã (pelo horário de Brasília), deve iniciar uma série de manobras até que o veículo atinja a velocidade adequada para ser capturado em órbita pela fraca gravidade do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.

É um sentimento muito bom ver o núcleo ficar maior e maior em nossas imagens, disse à Folha Holger Sierks, cientista do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar, na Alemanha, e líder do instrumento Osiris, o principal conjunto de câmeras da sonda.

Cometas, assim como asteroides, são tidos como restos do processo que levou à formação do Sistema Solar.

A diferença básica entre eles é a composição. Enquanto asteroides são predominantemente feitos de rochas, cometas são uma mistura de gelo e pedras. Por isso, quando se aproximam do Sol, esses astros exibem uma cauda é o gelo virando vapor pela ação dos raios solares.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Churyumov-Gerasimenko é um cometa de curto período e dá uma volta em torno do Sol a cada 6,5 anos. Em seu ponto mais distante do Sol, ele vai além de Júpiter. No mais próximo, chega perto da órbita terrestre.

A Rosetta não é a primeira nave a sobrevoar um cometa, mas deve se tornar a primeira a se alojar na órbita de um astro desse tipo. Assim, ela poderá monitorar as transformações que acontecem no cometa conforme ele se aproxima cada vez mais do Sol.

Estamos focando no núcleo por esses dias, e os detalhes que estão aparecendo são fascinantes, diz Sierks.

A cauda também será estudada em detalhes, combinando dados colhidos pela sonda com uma câmera panorâmica. Ela nos fornecerá uma visão do gás e da poeira na vizinhança do núcleo.
Além disso, o cometa será monitorado por telescópios em terra, para combinar o que se vê de dentro com o que se vê de fora.
POUSO INÉDITO
Depois de fazer história ao se estabelecer na órbita do cometa, a Rosetta tentará algo ainda mais audaz: levar um módulo de pouso à superfície do cometa.

O Philae é uma mininave autônoma, que se desprenderá da Rosetta para descer ao solo do pequeno astro em novembro.

Um dos objetivos das câmeras do Osiris no início da missão é fazer o mapeamento completo do cometa, a fim de identificar o melhor lugar para a tentativa de descida.

Outro desafio será conseguir pousar sem quicar. Como a gravidade do cometa é muito fraca, o Philae tem um arpão para se fixar à superfície e evitar um bate-volta. Caso ele tenha sucesso, promete grandes revelações.

O nome da sonda é uma homenagem à Pedra de Roseta, encontrada em 1799 no Egito e que ajudou a decifrar a antiga escrita egípcia de hieróglifos, por conter o mesmo texto em grego; Philae é uma ilha onde foi achado um obelisco também usado na decifração.

As duas sondas também pretendem decifrar os enigmas dos cometas.

Além de recontar a história da formação dos planetas, eles são ricos em água e em compostos orgânicos, o que sugere que eles podem ter tido algum papel como precursores da vida em mundos como a Terra.


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