Folha de S. Paulo


Fio cirúrgico com células-tronco acelera a cicatrização de feridas

Para reparar feridas no intestino de cobaias, pesquisadores da Unicamp estão contando com a ajuda de "costureiras" microscópicas: as células-tronco mesenquimais.

Por meio de uma técnica complexa, patenteada pela universidade, eles descobriram como "colar" as células num fio de sutura cirúrgica.

As feridas costuradas com o fio especial cicatrizaram em 15 dias, quando o normal seria levar em torno de dez semanas. Por enquanto, a abordagem foi testada em ratos.

"Isso pode ser um avanço na área de regeneração de tecidos", diz a hematologista Ângela Malheiros Luzo, coordenadora do estudo.

Editoria de Arte/Folhapress

Ângela é orientadora do biólogo Bruno Bosch Volpe, cujo trabalho de mestrado foi o desenvolvimento da técnica e que deve continuar a refiná-la em seu doutorado.

As células-tronco mesenquimais estão em diversas regiões do corpo, como cordão umbilical e camadas de gordura --nesse último caso, é fácil obtê-las durante uma lipoaspiração, por exemplo.

"Preferimos células vindas da gordura porque, além de a obtenção não ser tão invasiva, é mais fácil fazer elas proliferarem", diz Ângela.

Ainda há dúvidas sobre a versatilidade desse tipo de célula. Sabe-se que elas dão origem a tecidos como osso e cartilagem e há indícios de que poderiam se transformar em músculos ou neurônios.

Testes iniciais mostraram resultados animadores para uma série de doenças, mas é possível que elas funcionem só como "suporte de vida" de órgãos lesados, produzindo substâncias que facilitem a cicatrização, por exemplo.

No caso das feridas intestinais estudadas, as fístulas (canal que une duas regiões que deveriam estar separadas), outros cientistas já tinham tentado amenizar a lesão aplicando células-tronco, sem grandes resultados.

Parece que o pulo do gato é o uso do fio especial para costurar a ferida. Volpe e sua orientadora acharam a receita correta para "colar" células vivas no fio, com a ajuda de uma substância chamada fibrina, e manter a proliferação delas antes da costura.

"O importante do trabalho não foi só o uso da cola. A questão era fazer com que as células saíssem do fio e tivessem efeito benéfico depois da sutura", diz a hematologista.

Outra vantagem da abordagem é que as células-tronco usadas em humanos seriam obtidas a partir do organismo do próprio doente, evitando a rejeição.

Não há datas para testes em pessoas, mas um alvo óbvio são as que têm doença de Crohn, problema com severos sintomas gastrointestinais e recuperação difícil.

Mas, diz Ângela, a técnica poderia melhorar a eficácia de suturas em outros casos, como em cirurgias plásticas.


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