Folha de S. Paulo


Ig Nobel premia ditador bielorrusso e homem que engoliu musaranho sem mastigar

O Prêmio Ig Nobel, a sátira do Nobel que já tornou-se uma honraria desejada por alguns, anunciou nesta noite os vencedores de 2013. Os premiados incluem desde um arqueólogo que engoliu um musaranho sem mastigar até o ditador Alexander Lukashenko, do Belarus, passando por cientistas que fizeram uma análise estatística sobre de vacas deitadas. (Veja abaixo a lista completa de ganhadores.)

O tema da cerimônia de entrega neste ano foi "a força". Como é tradição no evento que sempre lota o teatro Sanders, da Universidade Harvard, a apresentação dos ganhadores foi intercalada por movimentos de uma ópera composta especialmente para a ocasião. Tudo foi transmitido ao vivo pela internet.

A obra musical era inspirada no "Dispositivo Blonsky", uma máquina giratória patenteada que servia para facilitar partos humanos com uso da força centrífuga. (A invenção ganhou um Ig Nobel em 1999.) Com letras de Marc Abrahams, o criador e apresentador do Ig Nobel, a peça foi composta sobre melodias plagiadas de Bach e Rossini.

O Ig Nobel se propõe a premiar pesquisas e realizações que "primeiro nos fazem rir, depois nos fazem pensar". Neste ano, ganhadores de sete das dez categorias foram a Harvard para receber pessoalmente seus prêmios.

Brian Crandall, arqueólogo que ganhou o prêmio por engolir um musaranho sem mastigar e depois examinar excrementos para descobrir quais quais ossos do pequeno mamífero se dissolviam no sistema digestivo humano pareceu ser o mais grato pela honraria. "Fiz esse experimento há mais de vinte anos, quando eu era estudante de graduação", disse. "Finalmente recebi algum reconhecimento."

Entrevista: O arqueólogo que engoliu um musaranho

Um dos ausentes, previsivelmente, foi Lukashenko. O ditador bielorrusso recebeu o Ig Nobel da Paz por proibir os aplausos em seu país e por permitir a prisão de um homem sem um braço pelo crime. (Em Belarus, onde manifestações coletivas são proibidas, o aplauso virou uma forma irônica de protesto.)

O outro ausente foi o americano Gustano Pizzo, ganhador póstumo na categoria Engenharia de Segurança. Ele é o inventor de um sistema antissequestro de aviões no qual o terrorista cai num alçapão, é empacotado e lançado à terra de paraquedas.

Entre aqueles que compareceram, porém, muitos se entusiasmaram. Masateru Uchiyama e seus colegas japoneses, que ganharam o prêmio de Medicina, apareceram fantasiados de ratos. Os cientistas provaram que a audição de ópera é melhor para camundongos pacientes de transplante de coração do que música erudita instrumental ou canções New Age da cantora Enya.

Laurent Bègue, que recebeu o prêmio de psicologia por provar que pessoas que pensam estar bêbadas também pensam ser mais atraentes, cantou seu discurso de agradecimento com violão e gaita. E um grupo internacional que ganhou o prêmio de astronomia por provar que besouros rola-bosta usam a Via Láctea para navegação recitou o agradecimento com uma coreografia e um jogral.

Mensageiro sideral: Besouros astrônomos e astronautas santos

Apesar de ser um evento humorístico, o Ig Nobel está consolidando a tradição de premiar cada vez mais estudos publicados em revistas científicas respeitadas. Em outras palavras: para que uma pesquisa ganhe o prêmio, não basta que seja maluca, é preciso que o artigo que a descreve seja ciência sólida, divulgada numa publicação com revisão independente.

Neste ano, vários estudos vencedores saíram em periódicos de alto impacto, como "Current Biology", "PLoS One" e "Nature". Os mais esdrúxulos costumam sair em revistas especializadas. O trabalho sobre as vacas, vencedor na categoria Probabilidade, saiu na "Applied Animal Behaviour Science". Ele traz a descoberta de que quanto mais tempo uma vaca fica deitada, maior é a probabilidade de ela se levantar.

"Estudei vacas pela maior parte da minha carreia e posso dizer com autoridade que elas conseguem ser muito chatas", disse o holandês Bert Tolkemp, vencedor do prêmio. "É preciso criar um titulo para o estudo que pelo menos o faça parecer interessante." O trabalho do etólogo, que tem o como título a questão "Vacas se tornam mais propensas a deitar quanto mais tempo ficam em pé?", responde à pergunta com um não.


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