Folha de S. Paulo


Projeto do Butantan quer estimular uso de peixe no lugar de rato de laboratório

Os ratinhos de laboratório devem começar a enfrentar concorrência pesada no "mercado de trabalho" das pesquisas científicas, se depender do trabalho liderado por uma bióloga do Instituto Butantan.

Mônica Lopes Ferreira, do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada --que pesquisa como venenos podem se tornar úteis em tratamentos médicos-- está liderando um programa para estimular a substituição, ao menos em parte dos estudos, dos camundongos pelo peixe paulistinha, também conhecido como "zebrafish".

Camilla Carvalho/Instituto Butantan
Peixe paulistinha para uso em pesquisa científicas em laboratório no Instituto Butantan
Peixe paulistinha para uso em pesquisa científicas em laboratório no Instituto Butantan

Segundo a pesquisadora, especialista em imunologia, o paulistinha já é usado em trabalhos científicos há mais de 30 anos, mas, no país, poucos optam pelo peixe.

Uma das vantagens do paulistinha é a redução de custos. "Um camundongo custa R$ 8 por dia, enquanto que o 'zebra' custa R$ 0,60", diz Ferreira.

Outro ponto positivo das cobaias nadadoras é a rapidez da procriação. A pesquisadora diz que cada um dá de cem a 200 ovos por dia, enquanto os camundongos geram de 8 a 10 em dois meses. Além disso, o ovo do peixe leva só 72 horas para se tornar um embrião e, em três meses, chega à idade adulta.

O peixinho também é mais "compacto" e, por ter o corpo transparente, permite a observação de estruturas internas sem necessidade de sacrifício, diz Ferreira, que passou cerca de um ano preparando o local adequado para os "zebras", com temperatura e umidade corretas para o seu desenvolvimento.

Há dois meses, o criadouro está pronto, com capacidade para 1.500 peixes.

A bióloga conta que, em primeiro lugar, sua meta é usar os peixes em seus próprios trabalhos e publicar um primeiro artigo tendo-os como cobaia em um ano. Mas a ideia é expandir o emprego dos paulistinhas. Ela vem recebendo visitas de pesquisadores -a maioria de fora do Butantan- interessados no peixe.

"O mundo todo usa o zebra para pesquisa comportamental, teste de novas drogas, estudo de desenvolvimento embrionário. São publicados cerca de 2.000 estudos por ano com eles. O Brasil só publica 40. Dá para aumentar muito."

Mas o objetivo não é aposentar os camundongos de vez. "Muitos dos reagentes que a gente usa foram criados para os camundongos. Pesquisas em que é necessário produzir anticorpos também ainda precisam deles."


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