Folha de S. Paulo


Análise: Programa espacial já estava mal das pernas antes do acidente

Uma década depois do trágico acidente que matou 21 técnicos e engenheiros no Centro de Lançamento de Alcântara, já dá para dizer que infelizmente suas mortes foram em vão.

Verdade que o programa espacial brasileiro já andava mal das pernas antes disso. O Veículo Lançador de Satélites (VLS-1), protagonista da tragédia, tinha passado por dois voos de qualificação antes do acidente, em 1997 e 1999, ambos fracassados.

Após o acidente, o então presidente Lula prometeu que uma nova tentativa de tornar o Brasil capaz de colocar seus próprios artefatos no espaço seria feita antes do fim de seu mandato.

Não só não aconteceu como ele ganhou mais quatro anos no Planalto e saiu de lá sem ver o VLS-1 decolar.

O engajamento pelo programa só durou o tempo de contratar uma consultoria russa para aprimorar o projeto original. O lançamento, que era para ser em 2006, ficou para 2007, depois para 2010, depois para 2013, e neste ano, ao que tudo indica, não sai mais.

Até recentemente, podia-se pôr a culpa no Tribunal de Contas da União, diante do interminável travamento de uma licitação para reconstruir a Torre Móvel de Integração, o prédio que prepara o VLS para voos e que foi completamente devastado pelo incêndio de 2003.

Mas desde o ano passado a infraestrutura está em ordem para nova tentativa. E onde está o foguete?

Detalhe: o próximo lançamento deve testar só metade do veículo, os dois primeiros estágios. O topo do veículo será apenas peso morto. Só depois desse e de mais um lançamento, teremos uma tentativa para valer de colocar um satélite em órbita. Tudo isso para validar um veículo lançador ultrapassado, projetado na década de 1970.

UCRÂNIA

Enquanto isso, na Agência Espacial Brasileira, aguarda-se a perspectiva de realizar lançamentos comerciais com os foguetes ucranianos Cyclone-4. O ministro Marco Antonio Raupp (Ciência, Tecnologia e Inovação) diz que a pasta investirá R$ 1 bilhão na empresa binacional Alcântara Cyclone Space, proposta em 2003 para fazer seu primeiro lançamento em 2007.

Os ucranianos, que herdaram o foguete da antiga União Soviética, aguardam ansiosamente, pois por aqui falta tudo --desde infraestrutura para lançar o Cyclone-4 de Alcântara até um website (digitando www.alcantaracyclonespace.com, encontra-se só um "site em manutenção").

Diz Yuri Alexeyev, presidente da agência espacial ucraniana, que o primeiro foguete sobe de Alcântara em 2014. O governo brasileiro fala em 2015. Será que Alexeyev apostaria dinheiro nisso?


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