Folha de S. Paulo


Cientistas apresentam genoma completo de cavalo de 700 mil anos

Na corrida em busca do genoma mais antigo da Terra, o novo campeão é um garanhão do Canadá.

O cavalo morreu há uns 700 mil anos, mas um de seus ossos, preservados no permafrost (o solo congelado do Ártico), forneceu a pesquisadores da Dinamarca material genético suficiente para que todo o DNA do bicho fosse sequenciado (grosso modo, "soletrado").

Claudia Feh/AP
Cavalo de Przewalski, na Mongólia, que é parente distante do cavalo de 700 mil anos cujo genoma foi sequenciado
Cavalo de Przewalski, na Mongólia, que é parente distante do cavalo de 700 mil anos cujo genoma foi sequenciado

É um feito tecnológico e tanto --até agora, o genoma completo mais antigo de um ser vivo era o de um denisovano (humano primitivo da Sibéria, aparentado aos neandertais), morto há "apenas" 80 mil anos.

Por isso mesmo, decodificar o DNA do equino canadense, que pertencia à mesma espécie que os cavalos domésticos de hoje, sugere que pode ser possível ampliar ainda mais o limite temporal dos estudos genéticos de criaturas extintas.

"No Ártico, não vejo por que não poderíamos chegar a um limite de 1 milhão de anos ou mais", diz Ludovic Orlando, pesquisador da Universidade de Copenhague que coordenou o estudo, publicado na revista "Nature".

"Em ambientes temperados, meio milhão de anos é bem possível, o que nos permitiria obter o genoma completo de parentes extintos do homem que ainda não foram estudados, como o Homo heidelbergensis, da Espanha, e o Homo erectus, da China."

A capacidade de ler genomas tão antigos se deve, de fato, aos avanços da tecnologia. Hoje, os aparelhos estão mais sensíveis a pequenos fragmentos de DNA, e há programas de computador que conseguem interpretar o que havia originalmente no material genético, mesmo que ele esteja quimicamente muito "estragado", além de montar todos esses pedacinhos de maneira confiável.

É claro que, além disso, a pesquisa traz dados interessantes sobre a evolução dos próprios cavalos. Comparando o genoma de 700 mil anos com o de um animal de 40 mil anos e com o de equinos modernos (tanto cavalos quanto jumentos), os cientistas estimam que o ancestral comum de todos esses bichos viveu há cerca de 4 milhões de anos, o dobro do tempo que se imaginava para essa origem.

Além disso, a pesquisa também confirmou que a última estirpe de cavalos naturalmente selvagens do mundo, os cavalos-de-przewalski (pronuncia-se "shiválski"), são mesmo 100% selvagens, sem mestiçagem com os bichos domésticos. E sugere que o clima foi determinante nas expansões e contrações da população dos cavalos ao longo das últimas centenas de milhares de anos. "Basicamente, se o clima esfria, é bom ser um cavalo; se esquenta, não é tão bom", brinca Eske Willerslev, também da Universidade de Copenhague e coautor do estudo.


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