Folha de S. Paulo


2016 foi ano em que muito se falou de filmes, mas pouco sobre eles

Esse grande ringue chamado 2016 contaminou o cinema brasileiro com seus (maus) humores políticos e fez valer a máxima "não vi e não gostei" para dois dos filmes mais falados do ano: "Aquarius", do pernambucano Kleber Mendonça Filho, e "Pequeno Segredo", do catarinense David Schurmann.

O primeiro, sobre uma mulher que luta contra a especulação imobiliária, causou cizânia após protesto anti-impeachment feito pela equipe durante a estreia do longa, na competição do Festival de Cannes.

Divulgação
Cena do filme
Cena do filme "Pequeno Segredo", do diretor David Schurmann

Quem era a favor do ato o adotou como manifesto político e suprassumo da estética. O outro lado do Fla-Flu ideológico esperneou nas redes sociais.

O clímax se deu na escolha de qual filme representaria o Brasil no Oscar. A comissão de votação, instituída pelo Ministério da Cultura, abrigava entre seus nove membros o comentarista Marcos Petrucelli, que já havia criticado o protesto em Cannes, lançando suspeitas de que "Aquarius" estava sofrendo retaliação do governo Temer.

A grita nas redes sociais foi grande: os diretores Anna Muylaert, Gabriel Mascaro e Aly Muritiba retiraram seus filmes do certame em apoio a Kleber, e dois dos integrantes da comissão a abandonaram.

O eleito foi o então pouco conhecido "Pequeno Segredo". O longa era um anti-"Aquarius" em sua essência: melodrama apaziguador sobre a adoção de uma menina soropositiva pelos velejadores Schurmann.

Escolhida, a produção gerou mais quebra-pau no "tribunal do Facebook", mas agora com os sinais trocados. Na quinta (15), revelou-se que o filme não estava na lista de pré-indicados ao Oscar. Dois mil e dezesseis foi esse ano insólito em que muito se falou de filmes, mas pouquíssimo sobre eles.


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