Folha de S. Paulo


Na política internacional, 2016 foi ano repleto de 'surpresinhas'

Damon Winter - 30.set.2016/The New York Times
Donald Trump, on the campaign trail in Novi, Mich. Sept. 30, 2016. (Damon Winter/The New York Times) ORG XMIT: XNYT78 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O presidente eleito Donald Trump, durante campanha em Novi, Michigan, em setembro de 2016

Ele enfrentou forte rejeição na mídia, foi chamado de "fraude" por gente grande do Partido Republicano e não deveria vencer, segundo indicava a maioria das pesquisas. Mas eis que o show de Donald Trump, que começou como piada, terminou como parábola da "pós-política".

O triunfo do novo inquilino da Casa Branca foi a surpresinha que faltava para coroar 2016 como o ano do espanto. A expressão de pasmo e desconcerto de analistas quando se tornou inevitável a vitória do magnata grosseirão já havia sido vista em pelo menos dois outros episódios: a vitória do "brexit", no Reino Unido, e a derrota do acordo de paz entre o governo colombiano e a guerrilha na consulta que deveria referendá-lo.

Como na eleição norte-americana, pesquisas britânicas e colombianas também deixaram os comentaristas a pé.

No "brexit", é verdade, as sondagens registraram diferentes tendências em curto período de tempo. A inclinação, contudo, de muitos observadores era considerar que o abandono da Europa seria um contrassenso, alguma coisa que violentaria senão a natureza, ao menos o destino maior da região.

Na Colômbia, ao contrário, os institutos apuraram clara vantagem dos favoráveis ao acordo -era a população apresentando seu previsível endosso ao inescapável "happy end". Só que não. Nas duas consultas falou mais alto a voz dos contrariados silenciosos, que não se imaginava mais em condições de cantar no palco da história.

Muito discutiu-se sobre os motivos que impediram os institutos de captar a escolha da maioria: as decisões de última hora, as pós-verdades e pós-mentiras das redes sociais, a frustração com a política tradicional e a vontade até então recalcada de dar um pontapé no consenso oficial do "certo".

Natural que muitos, ainda no calor do pasmo, previssem consequências catastróficas. Na Colômbia, contudo, um providencial Nobel da Paz para o presidente Juan Manuel Santos ajudou a contornar o desastre. Quanto ao "brexit" e a Trump, ainda precisaremos esperar.

Os britânicos podem encontrar um jeito de mitigar os atritos e manter a velha e conturbada relação com o continente. Já na América, a melhor expectativa é a de que o famoso sistema de freios e contrapesos da democracia ao menos impeça que a fera fuja da jaula. Esperemos. E feliz 2017!


Endereço da página:

Links no texto: