Folha de S. Paulo


Tsunami protecionista pode atingir comércio mundial em 2017

Anthony Wallace - 12.dez.2016/AFP
A labourer stands in front of shipping cargo containers as he shouts over to his colleagues in Hong Kong on December 12, 2016. / AFP PHOTO / Anthony WALLACE
Trabalhador em frente a contêineres de carga em Hong Kong, na Ásia

Desde que o Reino Unido decidiu sair da União Europeia, no fim de junho, vem se formando uma onda protecionista com potencial para se tornar um tsunami em 2017.

A partir de janeiro, devem começar a surgir respostas para as dúvidas que rondam o comércio global e que podem confirmar ou não as previsões catastrofistas.

O presidente americano Donald Trump vai abrir uma guerra comercial com a China e implodir o Nafta (acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá)?

Dependendo do resultado das eleições locais, França e Alemanha podem seguir o exemplo do Reino Unido e esvaziar de vez a UE?

Para Marcos Sawaya Jank, colunista da Folha e especialista em questões globais, o mundo assiste a uma "escalada protecionista" e a uma "rejeição a acordos comerciais" que "vai ganhando contornos perigosos parecidos com o que aconteceu nos anos 1930", após a Grande Depressão.

A comparação faz sentido, já que o epicentro do novo protecionismo é um sentimento antiglobalização, que ganha força apoiado no anêmico crescimento da economia global desde a crise em 2008 e 2009.

A classe média branca se sente prejudicada por conta dos empregos transferidos para a Ásia e do forte fluxo migratório vindo das nações pobres. Foi esse sentimento que contaminou os EUA e o Reino Unido, e corre o risco de se estender à França e à Alemanha no próximo ano.

E a China? Vai assumir o papel dos EUA como promotor do livre comércio? Até agora, os sinais são de que Pequim pode ocupar o espaço deixado pelos americanos. Mesmo antes de assumir, Trump já prometeu abandonar a negociação da Parceira Transpacífica, acordo que reúne 12 países banhados pelo oceano
Pacífico.

Na semana passada, os chineses também deram uma demonstração enfática de que não vão se acovardar na guerra comercial ao abrir um processo contra americanos e europeus na OMC, questionando as sobretaxas impostas aos seus produtos.

IMPACTO NO BRASIL

Esse horizonte turbulento traz nuvens carregadas para o Brasil, que tenta sair da crise exportando mais. Também reduz as pretensões do governo Temer de reorientar a política externa das gestões petistas e buscar acordos comerciais após 15 anos de inércia.

A atual administração tenta avançar na negociação entre o Mercosul e a UE e num entendimento com o México. Também procura iniciar conversas com o Canadá e com os países que não participam do bloco europeu, como Noruega e Suíça.

O problema é que o governo terá muitas dificuldades para se organizar no front externo enquanto estiver envolvido numa crise política que parece sem fim. Definitivamente o Brasil não está preparado para o tsunami que pode vir por aí.


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