Folha de S. Paulo


Aposta menos incerta para a economia em 2017 é que projeções estão erradas

Adriana Komura

A previsão menos incerta para 2017 é que as atuais projeções de crescimento da economia estarão erradas. Mesmo em momentos menos conturbados, erra-se muito. Nesta recessão de múltiplas causas combinada a uma imensa crise política, os erros têm sido muito maiores.

Para piorar, desde o final de outubro, as estimativas dos economistas voltaram a divergir muito. Foi então que se frustrou a expectativa de que a recessão terminasse neste final de ano.

A previsão para crescimento de 2017 estava em 0,7% na semana passada. Mas há boas casas do ramo que acreditam em desempenho pior, apenas 0,3%, e também muito melhor, de 1,5%.

Feitas as ressalvas, o que se pode dizer da economia, além do PIB?

Mesmo que o crescimento de 2017 seja o esperado, a produção da economia ainda seria 6% menor do que em 2013, ano anterior ao do início da recessão. Uma economia menor emprega menos gente.

PIB - Variação em relação ao trimestre anterior, em %

Mesmo em retomadas, a recuperação do emprego vem mais tarde. Primeiro, aproveita-se como se pode a mão de obra ainda empregada. Quando há certeza da melhora do mercado, começam timidamente as contratações.

Economistas mais certeiros acreditam que o desemprego no ano que vem será, na média, maior que o de 2016 (mais de 12%).

O crédito dos bancos deve voltar lenta e tentativamente. Sem emprego e sem crédito, é difícil de acreditar em recuperação das vendas de varejo, que neste 2016 devem cair mais de 6%. Será um progresso se o comércio vender mais 2% no ano que vem.

TAXA DE DESEMPREGO - Evolução, em %

A ociosidade nas indústrias ainda é a maior desde 2001, quando começa essa estatística. Com tanta máquina sem uso, as empresas não vão investir mais; com tanto imóvel encalhado e vazio, e com menos investimento do governo, a construção civil vai andar muito devagar.

Como a economia vai sair do chão? Puxando os cabelos? Quase isso. Muito devagar, de qualquer modo.

Dados o tamanho da recessão, o controle de gastos do governo e, ao que parece, a queda enfim firme da inflação, as taxas de juros no país devem baixar.

TAXA DE JUROS (SELIC) - Evolução, em %

Assim, deve cair o custo financeiro da dívida de famílias e firmas, que tem emperrado a economia. As famílias têm reduzido seu endividamento, mas os pagamentos das prestações não caem, por causa das altas taxas. Juros e inflação menores, de resto, incentivam algum consumo.

Depois de um longo período se desfazendo de estoques e dívidas excessivos, as empresas podem começar a produzir um pouco mais, com esse sinal mais animado do consumidor.

Um pouco menos de incerteza deve fazer com que as empresas tomem coragem de fazer pequenos investimentos, de reposição. Mas um aumento relevante de novas despesas em construções e equipamentos vai depender das concessões e privatizações que o governo promete fazer, em obras e serviços de infraestrutura (estradas, portos, saneamento, energia, aeroportos). Por ora, estão mal parados.

É o que de menos incerto se pode dizer. Pode ser pior, caso a crise política volte a paralisar as mudanças na área. Ou caso ocorra conturbação na economia internacional (devido a Donald Trump, nos EUA, China e eleições na Europa).

Nesse caso, o cenário volta a ser de nevoeiro fechado.

INFLAÇÃO (IPCA) - Acumulado nos últimos 12 meses, em %


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