Folha de S. Paulo


Bairro chique de Atenas vive clima de 'luxo suspenso'

As ruas de Kifissia, no norte de Atenas, chamam atenção pelas árvores bem cuidadas e as lojas de design. Vestuário de grife, anéis de diamante e equipamentos de iatismo. Aqui as pessoas têm dinheiro para gastar, o que não estão fazendo neste momento.

Nikki, de 34 anos, está sentada com sua amiga Maria do lado de fora da loja em que vende calçados infantis. Ela segura um telefone celular e olha para a porta da frente, mas nenhum cliente entra.

"Estamos esperando para ver o que vai acontecer com os bancos", ela diz. "Não podemos fazer nada".

BBC
Crise econômica afasta gregos de lojas de artigos de luxo
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Elegante e sempre ligado às últimas tendências da moda, o bairro de Kifissia é um dos mais ricos de Atenas. Também é um dos únicos da capital onde a maioria das pessoas votou "Sim" no referendo de domingo.

Mais de 60% dos gregos votou "Não" para a oferta internacional de resgate dos credores da Grécia. Mas em Kifissia, os moradores rejeitaram as promessas do governo de conseguir um acordo melhor.

A maioria das pessoas aqui - 63,9% - queria que o país aceitasse o resgate e se submetesse a quaisquer medidas de austeridade que o acompanhassem.

"Talvez os ricos pudessem arcar com o voto pelo 'Sim'", disse outro lojista desocupado.

Mas, agora, o futuro do país deles está nas mãos do governo do partido radical de esquerda Syriza, que mantém reuniões de emergência com ministros de finanças da zona do euro.

MAÇOS DE DINHEIRO

As fortunas de alguns dependem do poder de compra dos estrangeiros. Os donos de uma joalheria de luxo se sentem vencedores quando uma cliente não compra um, mas dois colares de brilhantes.

Nicole Kharma, de 48 anos, é uma turista de Cingapura e chegou à Grécia preparada - carregando maços de notas de 50 euros. Enquanto ela conta o dinheiro, o negociador da joalheria Stavros Metaxas explica: "Os clientes estrangeiros são muito importantes. Os gregos estão esperando para ver o que acontece com a crise e não querem gastar dinheiro".

BBC
Lojas gregas de luxo apostam no poder de consumo de compradores estrangeiros
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Os gregos só podem sacar 60 euros por dia de cada conta bancária devido a controles de capital. E, para poderem pagar seus fornecedores, preferem dinheiro vivo do que pagamentos com cartões de crédito.

"Se não recebem pagamento, os fornecedores começam a recolher seus estoques", diz Metaxas.

Kharma consegue sacar 500 euros por dia usando cartões bancários de suas contas internacionais e gasta o dinheiro no comércio local. Mas ver o que se passa ao redor dela é de "partir o coração", diz.

"Sair do caixa eletrônico com um maço de 50 notas - para 500 euros - quando todo mundo está fazendo fila para conseguir só 50 euros é muito triste".

'TODOS SÃO AFETADOS'

Para a maioria dos gregos aqui talvez a única coisa que não será cortada na crise é o cafezinho.

Panagiotis Fotiou, de 60 anos, está tomando um expresso enquanto reúne energia para se juntar ao final da fila e sacar o limite diário de dinheiro no caixa eletrônico.

Ele diz acreditar que o governo do premiê Alexis Tsipras quer abandonar o euro. "Acho que o governo quer tirar a Grécia da Europa e logo termos a dracma de volta", diz.

"Eu acredito que estão fazendo isso devagar, sem falar nada, porque não querem que as pessoas percebam o que estão fazendo".

Fotiou é um engenheiro mecânico aposentado. Ele viveu na Grã-Bretanha nos anos de 1980 e se mudou para Kifissia há três anos.

"Esta é uma das áreas mais ricas da Grécia por isso não vemos muitas lojas fechadas ou pessoas pedindo esmolas pela rua", ele afirma.

"Mas todos são afetados pela crise de formas diferentes".

Os gregos em Kifissia estão esperando. Até agora suas vidas estão em suspenso e seu futuro está na mãos de outros.


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