Folha de S. Paulo


Reality show combate corrupção escolhendo servidor público mais honesto do Nepal

Foram mais de 300 candidatos vindos de todo o Nepal, de policiais a garis. Cinco chegaram à grande final. Mas, nesta competição, eles não precisam cantar ou dançar. Para empolgar o público, o que conta é a honestidade.

No país, que ficou em 126º entre 175 países no ranking de percepção da corrupção da Transparência Internacional, o reality show musical "American Idol" (conhecido como "Ídolos" na versão brasileira) virou "Integrity Idol", ou "Ídolo da Integridade".

Exibido na rede de TV Today's Youth Asia, emissora voltada para o público jovem, e na rádio, o reality mostrou minidocumentários sobre a vida de cinco funcionários públicos considerados exemplares por jurados. Ganhará o reality o servidor público mais honesto do país.

"A sociedade, em países em desenvolvimento, tem uma imagem negativa do governo e dos servidores públicos. Acham que ambos são corruptos. É claro que há sistemas corruptos, mas nem todo mundo é corrupto. Há pessoas que podem servir de modelos e inspirar outras", diz Narayan Adhikari, do Accountability Lab, ONG que promove o reality show.

Ele diz que foi procurado por organizações do Paquistão e do Afeganistão que querem fazer programas semelhantes nos países. "É uma forma de incentivar a prestação de contas em países com histórico de corrupção, como o Nepal ou o Brasil. É um exemplo importante principalmente para a próximo geração, uma forma de construir confiança."

Integrity Idol
Participantes do
Participantes do "Integrity Idol"

FINALISTAS

A premiação não será em dinheiro, pois o objetivo é que a pessoa ganhe reconhecimento público. As votações foram feitas por telefone, Facebook, Twitter, e-mail e até cartas. Por mensagens SMS foram 3,8 mil votos —no total, mais de 10 mil.

Entre os finalistas está Bhuvan Kumari Dangol, a primeira mulher a virar diretora em uma escola de medicina no país. Quando assumiu o cargo, de acordo com a organização do concurso, ela interrompeu um ciclo de corrupção e parou de aceitar pagamentos por vagas na universidade, prática que era comum anteriormente.

Gyan Mani Nepal é um secretário regional de Educação que conseguiu reduzir o índice de faltas de professores e elevou os níveis de aprovação de 14% para 60%. Ele visitou cada uma das escolas e compartilhou seu próprio telefone celular para que alunos e pais pudessem avisar quando professores faltam, chegam atrasados ou saem antes.

Lila Bhattarai é uma assistente social que ajudou garotas que haviam abandonado a escola a retomar seus estudos, assim como adultos analfabetos a ir para a escola. Mulheres também foram incentivadas a poupar para conseguir pagar os estudos de suas filhas. Para isso, ela passa grande parte de seu tempo viajando pelas partes mais remotas do país.

Pawan Kumar Mandal é um supervisor de saúde que, há mais de 14 anos, trabalha em vilarejos isolados fornecendo cuidados de saúde básicos, como soro para reidratação. Com isso, conseguiu evitar a morte de muitas pessoas.

Prem Bahadur Khadka, diretor de uma escola de ensino médio, usou dinheiro de seu próprio bolso para oferecer bolsas de estudo para que seus alunos chegassem à universidade, além de ter levantado fundos organizando diversos eventos. Seu objetivo é aumentar as chances de estudantes da comunidade em que trabalha, em uma área pobre e marginalizada.

O campeão será anunciado no início do ano que vem. A decisão será feita com base na votação popular e na opinião dos jurados, que irão considerar o impacto das ações dos competidores e a integridade de suas ações.


Endereço da página: