Folha de S. Paulo


Mensagens secretas no Cristo Redentor inspiram livro de irlandesa

Uma descoberta surpreendente inspirou a escritora Lucinda Riley a escrever um livro sobre a história do Cristo Redentor: por trás das milhares de pastilhas de pedra-sabão que recobrem o famoso monumento, há orações e mensagens de amor escritas por mulheres que participaram da construção da estátua.

Em entrevista à BBC Brasil, a autora do romance As Sete Irmãs (lançado no Brasil pela editora Novo Conceito) conta que durante dois anos pesquisou documentos, visitou arquivos, ouviu inúmeras histórias e conversou com parentes de Heitor da Silva Costa, engenheiro responsável pelo projeto e construção do Cristo Redentor, inaugurado no dia 12 de outubro de 1931.

Antonio Lacerda-7.out.11/Efe
Cristo Redentor, no Corcovado, Rio de Janeiro
Cristo Redentor, no Rio de Janeiro

Em três visitas ao Rio de Janeiro, numa das quais passou mais de um mês na cidade, Lucinda descobriu que muitas mulheres receberam a tarefa de colar cada pastilha de pedra sabão sobre redes de algodão que posteriormente seriam colocadas sobre a estrutura de concreto da estátua.

"O curioso é que antes de colar os azulejos de pedra, elas escreviam, à mão, mensagens para suas famílias e para seus amados, do lado de trás. Há orações e juras de amor. Então, na verdade, além de toda a beleza aparente, o Cristo contém centenas de mensagens de amor. É algo fascinante", conta a escritora nascida na Irlanda e radicada na Grã-Bretanha.

"Paul Landowski, o artista francês responsável pela escultura, considerou cobri-la de bronze. Mas logo se deu conta de que o material ficaria verde com o tempo. Pouco depois percebeu que pastilhas de pedra seriam o ideal, e que colocadas numa rede de algodão, e com a distância entre elas preenchida pelo concreto, qualquer problema numa delas, ou rachadura, não colocaria em risco toda a estrutura", acrescenta.

A descoberta serviu de inspiração para o início da história fictícia que ela conta no livro As Sete Irmãs. Trata-se do primeiro de uma série de sete romances que pretende escrever em que diferentes lugares do mundo e grandes obras como esculturas, sinfonias ou quadros serão mesclados às histórias de amor e ao enredo que no final reconta a saga de sete irmãs.

"Maia é uma moça que mora em Genebra, e recebe um azulejo de pedra sabão de seu pai no leito de morte. Ao rastrear a história do objeto e da mensagem escrita no verso, ela chega ao Rio em busca de sua história. E aí, juntamente com ela aterrissamos no Rio de Janeiro dos anos 30, da Belle Époque, e acompanhamos a construção do Cristo Redentor", resume a escritora.

AMOR PELO RIO E CURIOSIDADES

Lucinda se declara apaixonada pelo Brasil, sobretudo pelo Rio de Janeiro. "Acho que os cariocas têm uma noção sobre o tempo do trabalho e o tempo do lazer. O esporte, a praia, as paisagens magníficas. Tudo isso é um estilo de vida que me agrada muito. Morei um Ipanema por quase dois meses e posso dizer que já me sinto uma carioca", conta.

O interesse da escritora pela cidade começou quando uma editora brasileira a convidou a vir ao país assinar um contrato.

"No caminho entre o aeroporto e o hotel, ao longe, vi o Cristo em cima de uma montanha. Na hora, me arrepiei. Senti que eu tinha que descobrir tudo sobre como ele tinha ido parar lá em cima. Eu acredito nessas coisas, foi um sinal. E nos dois anos seguintes, foi exatamente o que eu fiz", relembra.

Na pesquisa, ela relembra uma série de fatos curiosos. Durante os dez anos entre o início do projeto e a inauguração, ninguém morreu em acidentes de trabalho. Toda a ideia foi financiada pela própria população carioca, embora muitos acreditem que a estátua tenha sido um presente.

"Me surpreende que muitos brasileiros achem que o Cristo tenha sido um presente da França. Na verdade todo o dinheiro foi arrecadado da própria população. É algo inteiramente do Brasil, projetado, construído e pago pelos brasileiros", diz.

"Eu acho fascinante o fato de ser estrangeira e agora saber tantos detalhes sobre o Cristo, muito mais do que tantos brasileiros. Mas acho que é normal. Sou britânica e não sei nada sobre o Big Ben. Quando algo tão grandioso faz parte do nosso dia a dia, não prestamos tanta atenção."

Confira um guia interativo sobre o Cristo Redentor clicando aqui.


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