Folha de S. Paulo


Menina esquarteja colega e suscita debate sobre famílias japonesas

Uma garota de 16 anos do ensino médio foi presa pela polícia de Sasebo, na província de Nagasaki, ao sul do Japão, por suspeita de matar e desmembrar uma colega de classe.

O caso chocou a opinião pública, chamou a atenção da imprensa japonesa, foi destaque no noticiário internacional e acendeu uma discussão no país sobre as relações familiares e o papel dos pais na criação dos filhos. A adolescente morava sozinha em um apartamento pago pelo pai.

Segundo a polícia, a estudante usou um objeto de metal para desferir inúmeros golpes contra a cabeça da amiga Aiwa Matsuo. Depois, estrangulou-a com uma corda.

A suspeita, então, teria decepado a cabeça da vítima e também uma das mãos. O caso aconteceu na noite deste sábado (26) e o cadáver foi encontrado na madrugada deste domingo (27), pela polícia.

Os pais de Aiwa ficaram preocupados com o sumiço da filha, que havia enviado uma mensagem logo após as 19 horas locais dizendo que já estava voltando para casa.

A vítima foi encontrada estendida sobre uma cama no apartamento da suspeita. Perto do local estavam os acessórios que foram usados para espancar e cortar o corpo da vítima.

DEBATE

A garota presa vivia sozinha em um apartamento desde abril passado. O pai dela, que vive na mesma cidade, se casou novamente neste ano após a morte da mulher no ano passado.

O fato teria revoltado a garota, que decidiu morar sozinha. O lugar onde vivia estava alugado em nome do pai.

Um crime poderia ter sido evitado caso a garota não vivesse tão isolada e solitária, dizem acreditar os especialistas ouvidos pela BBC Brasil.

"Essa relação familiar nos choca e o fato de uma garota viver sozinha em um apartamento é muito triste e impressiona", disse a advogada Sayo Saruta, que divulgou recentemente uma pesquisa com crianças abandonadas pelos pais que vivem em instituições do governo japonês.

Para Sayo, as pessoas hoje vivem mais isoladas, e mesmo parentes mais próximos às vezes ficam de mãos atadas diante de dilemas familiares.

Para a psicóloga Neusa Emiko Miyata, que desenvolveu pesquisas na área de psicologia clínica pela Universidade de Kyoto e Universidade Tsukuba, o fato de os japoneses darem prioridade ao trabalho acaba enfraquecendo o núcleo familiar.

"O pai, mesmo sabendo que era o responsável pela menor, a deixou viver sem nenhum aparo ou atenção de um adulto."

A psicóloga afirma que, atualmente, poucas famílias mantêm o costume de jantar junto, o que faz que a família perca a oportunidade de trocar ideias e conversar sobre problemas. "Além disso, hoje não há mais aquela integração com os vizinhos e a e impressão é de que as pessoas evitam o contato", lamentou.

Sayo tem a mesma opinião. "São poucos os vizinhos que sabem, por exemplo, que eu tenho um bebê", falou.

O CASO

Segundo uma agência de notícias de Kyoto, a adolescente disse à polícia que fez tudo "sozinha". A polícia investiga os motivos que teriam levado a jovem a praticar o crime. Diversos outros ferimentos foram encontrados no corpo da vítima.

Em entrevista à rede de TV pública NHK, o diretor da escola onde as duas estudavam disse que elas, aparentemente, não tinham problemas de relacionamento.

A escola realizou uma reunião extraordinária com todos os estudantes nesta segunda-feira (28) e pediu aos alunos para "pensarem novamente sobre o valor de uma vida humana".

Dez anos atrás, um crime semelhante abalou a mesma cidade, quando uma estudante de 11 anos esfaqueou uma amiga de 12 até a morte. Naquele caso, a garota disse que agiu porque a vítima teria feito comentários sobre sua aparência em bate-papo na internet.


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