Folha de S. Paulo


Menos nacionalismo, mais ideias de Cruyff à seleção brasileira

Quando Johan Cruyff fala sobre futebol, você fica quieto e ouve - a não ser que você não tenha interesse no assunto - ou é um idiota. Infelizmente, existem algumas pessoas que parecem estar nessa última opção. Cruyff, como jogador, treinador e pensador, é uma das vozes mais brilhantes e influentes deste jogo.

O holandês é a cabeça por trás do modelo de jogo do Barcelona - indiretamente, é, em partes, arquiteto da inacreditável derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 na semifinal (os alemães assimilaram com sucesso vários aspectos do jogo do Barcelona de Pep Guardiola, pupilo de Cruyff, agora comandando o Bayern de Munique - uma série de ideias progressistas do futebol que podem ser seguidas sem parecer ter qualquer participação brasileira).

Antes da semifinal, Cruyff elogiou o futebol jogado pela Alemanha e criticou o brasileiro - como, de fato, ele tem feito frequentemente nos últimos anos.

Para os idiotas nacionalistas (existe outro tipo?) isso é uma afronta, uma visão ofensiva baseada no ciúme e na amargura. As mídias sociais estão cheias de reações absurdas: como se atreve este homem ter uma avaliação ruim da seleção brasileira!

A principal característica do idiota nacionalista é o fato de ser incapaz de ver as coisas fora dos contextos nacionais. Nessa mentalidade pequena, Cruyff, enquanto holandês, poderia apenas falar como um porta-voz de seu país. Seria então um ataque da Holanda - um país que nunca ganhou uma Copa do Mundo - sobre o Brasil - que venceu cinco vezes.

Mas as pessoas, a menos que sejam idiotas nacionalistas, são muito mais do que representantes de um país onde, por completo acidente, elas nasceram.

No caso de Cruyff, ele é um defensor não da Holanda, mas de um certo tipo de futebol. De fato, no artigo na imprensa holandesa em que ele criticou o Brasil, também deixou claro que estava longe de estar contente com o futebol jogado pela Holanda do técnico Louis Van Gaal.

A Alemanha, ele disse, era a única das quatro semifinalistas que ele aprovava - uma opinião que ganha credibilidade após as performances dos quatro times em campo.

A resposta mais inteligente seria entender que Cruyff estava criticando o Brasil exatamente porque ele acredita que a seleção é capaz de fazer muito mais.

A partir do momento que ele tem interesse no assunto, talvez a CBF poderia chamá-lo para um debate. Não estou propondo que a ele deveria ser oferecido o cargo de técnico do Brasil - me parece que seus dias de treinador passaram.

Mas as sugestões dele podem certamente contribuir com o futuro - e elas podem ajudar a agitar o futebol brasileiro depois do mal-estar psicológico causado pela humilhação de 8 de julho de 2014.


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