Folha de S. Paulo


Parque da Alemanha Oriental atrai curiosos e nostálgicos da Guerra Fria

Roda-gigante, cocaína e incertezas

No meio da floresta de Plänterwald, em um dos bairros esquecidos no leste de Berlim, está escondido um dos tesouros mais valiosos da época da Alemanha dividida: o Spreepark.

Enferrujando entre árvores e lama, dinossauros e barcos em formato de cisne são alguns dos poucos sobreviventes do que já foi um dos mais populares parques de diversão de Berlim Oriental. Fechado para visitantes desde o início dos anos 2000, o lugar hoje atrai um misto de curiosos e nostálgicos da época da Guerra Fria.

Aberto em 1969 pela família alemã Witte, o parque era um dos principais pontos de entretenimento do lado leste do muro que dividiu Berlim durante quase três décadas.

Nos anos 90, porém, enquanto a Alemanha trabalhava em sua reunificação e o lado ocidental apresentava um universo de opções de diversão antes inexistentes no lado oriental, o Spreepark entrou em decadência.

"O número de visitantes caiu e o dinheiro foi acabando", explicou à BBC Brasil o administrador do local, Gerd Emge. Como consequência, o parque acabou fechando em 2001, deixando suas atrações abandonadas a céu aberto.

Pouco depois, a família dona do local foi envolvida em um episódio polêmico, quando o patriarca e um de seus filhos foram presos tentando contrabandear para a Alemanha 167 quilos de cocaína dentro de uma atração para o parque chamada "Tapete Voador".

Nostalgia Quase 25 anos se passaram desde que o muro que dividia a capital alemã foi derrubado. A nostalgia pelos tempos da Alemanha Oriental, no entanto, é intensa entre a população, e pesquisas de opinião mostram que muita gente ainda sente falta daquela época.

Esta foi a motivação de Emge quando, há oito anos, ele decidiu organizar um passeio guiado, de trem, pelo parque - caminhar pelas ruas de pedra do Spreepark não é considerado seguro, já que muitos brinquedos têm suas estruturas apodrecidas e enferrujadas.

O passeio, que custa 15 euros por pessoa, acontece duas vezes por dia apenas durante os finais de semana e tem atraído um público cada vez maior interessado em conhecer de perto as relíquias de um passado não tão distante assim. "Aqui é o último paraíso da RDA (República Democrática da Alemanha)", disse Emge. De acordo com ele, cerca de 300 pessoas passam por ali todos os sábados e domingos.

Nos últimos anos, o futuro do parque vem sendo discutido entre os administradores e as autoridades da cidade de Berlim. Muitos investidores --entre eles um grupo que controla parques de diversão na Bélgica-- já manifestaram interesse em assumir as rédeas do Spreepark. No entanto, nenhum acordo prosperou. Muito é especulado sobre o que poderia ser feito no terreno onde hoje estão os brinquedos do finado Spreepark. Uma das hipóteses mais controvertidas seria o possível plano para o desenvolvimento de um projeto imobiliário no local.

Para Emge, a causa é política: "Se temos interessados em assumir o terreno para que o parque volte a funcionar, por que nada foi decidido ainda?". O Senado de Berlim, responsável pelo governo da cidade, não comenta o caso, e um pedido feito pelo Partido Pirata para revelar os detalhes do contrato não teve resposta.


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