Folha de S. Paulo


Aparecida aguarda papa com frio, shows e disputa por lugar

Avelina Bruno da Silva e Madalena Marcondes Ferreira se conheceram por acaso enquanto caminhavam por Aparecida (a 180 km de São Paulo), na tarde de ontem (23), e ficaram amigas ao descobrir que tinham um objetivo em comum: passar a noite em claro diante da Basílica de Nossa Senhora, para conseguir estar entre as 15 mil pessoas que acompanharão in loco a missa do papa Francisco, nesta quarta-feira (24).

"Nem temos hotel reservado. Vamos ficar aqui mesmo, ao ar livre", diz Avelina, 60, que veio de Guarulhos com uma bolsa e um cobertor. "Só o sorriso do papa já é uma emoção, já vale a visita. Ele quebra tudo o que é protocolo. É bem que nem eu."

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Como elas, centenas de fiéis se preparavam para passar a noite em claro, em fila, diante da Basílica, para tentar chegar perto do papa Francisco em sua rápida visita à cidade paulista.

Francisco deve chegar, vindo do Rio, às 9h30, desfilar no papamóvel por alguns minutos e às 10h30 celebrar uma missa no altar central da Basílica de Nossa Senhora.

Há 15 mil assentos dentro da Basílica, mas 3.000 estão reservados a autoridades políticas (como o governador paulista, Geraldo Alckmin, que receberá o pontífice) e religiosas.

Para os fiéis, sobram 12 mil lugares, que começariam a ser distribuídos a partir das 5h da manhã desta quarta, por ordem de chegada.

Paula Idoeta/BBC Brasil
Peregrina Daniela (segunda à esq) e seus amigos de Guarulhos (Grande SP)
Peregrina Daniela (segunda à esq) e seus amigos de Guarulhos (Grande SP)

FRIO E MAU TEMPO

Por isso a preocupação de Avelina e Madalena em conseguir um lugar na fila que se formaria diante da Basílica, apesar do intenso frio em Aparecida (a temperatura mínima esperada é de 7ºC) e da ameaça de chuva.

"Meus filhos não queriam que eu viesse, mas não tinha como não vir", diz Madalena, 52, de São José dos Campos (a 97 km de São Paulo). Mas a fila só começaria a ser armada após a meia-noite, ao fim de um show de música comandado por Elba Ramalho, Sérgio Reis, Agnaldo Timóteo e outros.

Terminado o show, a Basílica seria esvaziada para uma varredura comandada por peritos da Polícia Federal. A expectativa era de que só depois disso, lá fora, os visitantes pudessem começar a se enfileirar até a manhã desta quarta, em busca da pulseirinha que daria acesso à igreja. Quem não conseguir entrar, verá o pontífice de um dos telões espalhados pelo santuário, onde há 5 mil cadeiras.

"Mas não vale a pena vir até aqui e ver só no telão", argumenta Daniela Pereira, 39, que veio de Guarulhos com quatro amigos católicos, que carregavam mochilas e uma mala cheia de mantimentos e arquitetavam qual seria o melhor lugar para passar a noite.

"Íamos dormir em um monastério aqui perto, mas a vontade de ver o papa é tanta que mudamos os planos e vamos ficar aqui (na Basílica) mesmo."

O mesmo plano tinha Luiza Edmeia, 45, que trouxe uma cadeira dobrável para acampar durante a noite, apesar de uma dor de garganta que poderia piorar com o frio. Mas ela, que já havia vindo para Aparecida para as visitas de João Paulo 2°, em 1997, e Bento 16, em 2007, achou que valia o esforço para ter a "benção de Deus".

PAPA

O mau tempo não apenas atrapalhou os fiéis como mudou os planos de viagem do papa, que em vez de vir de helicóptero do Rio para Aparecida tomará um avião da FAB até São José dos Campos, cidade próxima à Aparecida.

Cerca de 200 mil pessoas são esperadas na cidade nesta quarta-feira para a visita do pontífice, como parte da programação da Jornada Mundial da Juventude.

Após a missa, o pontífice segue à tribuna da Basílica para abençoar os romeiros presentes. Descansa no santuário e regressa ao Rio às 16h30 da própria quarta-feira. Há cerca de 400 policiais federais fazendo a segurança do evento, além de 2.600 integrantes do Exército.

No domingo, uma bomba caseira foi encontrada em um banheiro do santuário e detonada por policiais, mas autoridades do Vaticano e do santuário disseram que o artefato não apresentaria qualquer risco à segurança do pontífice.


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