Folha de S. Paulo


Obama visita México de olho em 'parte no futuro' da América Latina

O presidente americano, Barack Obama, começa nesta quinta-feira uma viagem para o México e a Costa Rica com o intuito de "mudar o tom" e melhorar uma relação cheia de falhas com os seus vizinhos imediatamente ao sul.

Iniciando o giro de três dias, Obama se reunirá com o presidente do México, Enrique Peña Nieto, cuja eleição foi vista com desconfiança por muitos analistas americanos no fim do ano passado.

Ele também procurará reduzir a ênfase posta no combate ao narcotráfico que marcou a última década de relacionamento com o México, falando a estudantes universitários sobre temas como desenvolvimento, cooperação educacional e laços sociais e familiares com os vizinhos.

Na sexta-feira, o presidente americano segue para a Costa Rica, onde terá, até o sábado pela manhã, encontros com líderes latino-americanos do Sistema de Integração Centro-Americano (Sica), um bloco de países com diferentes graus de proximidade em relação a Washington.

"Nesta viagem, queremos ampliar o escopo da cooperação, para reforçar o seu lado econômico. Queremos criar empregos e oportunidades dos dois lados da fronteira", disse a jornalistas um porta-voz da Casa Branca para a comunicação em assuntos de segurança, Ben Rhodes.

REGIÃO EM ASCENSÃO

A visita à América Latina será a segunda no atual mandato de Obama, depois apenas da viagem presidencial ao Oriente Médio em março.

O diretor da Casa Branca para o hemisfério, Ricardo Zuniga, disse que os Estados Unidos querem fazer "parte do futuro" de uma região com uma classe média em ascensão e níveis de pobreza em queda.

Passada a viagem para o México agora, analistas em Washington apostam fortemente que ainda poderia ocorrer neste ano um encontro entre Obama e a presidente brasileira Dilma Rousseff nos EUA.

Zuniga lembrou que os principais países latino-americanos estão assumindo um papel mais ativo no cenário internacional, e que os EUA veem este fato como "muito positivo" e que deve ser "incentivado".

"Queremos fazer parte deste grande futuro econômico", disse.

A visita também ocorre no momento em que se discute, nos Estados Unidos, uma reforma migratória que beneficiaria milhões de mexicanos vivendo ilegalmente no país - mais precisamente, 55% dos 11,1 milhões de indocumentados, nas estimativas do centro de estudos Pew Research.

Todas as propostas de reforma sendo discutidas pelo Congresso americano incluem algum tipo de reforço da fronteira para evitar a entrada ilegal de mais imigrantes, e os porta-vozes da Casa Branca disseram que o tema será tratado entre os dois presidentes.

Entretanto, lembrou Zuniga, mesmo neste ponto a questão econômica pode fazer diferença. "Se a economia mexicana estiver crescendo, isto também reduz o fluxo de imigração ilegal para os EUA, que é o que está acontecendo agora", observou.

Em entrevista ao jornal mexicano "El Universal", o ministro das Relações Exteriores do México, José Antonio Meade, disse que "poucas relações têm tantos temas com tanto potencial de gerar bem-estar" quanto a relação EUA-México, e afirmou que os dois países vão "buscar um diálogo que abarque todas essas oportunidades, em um contexto de segurança".

"Ao mesmo tempo em que discutimos a segurança, temos de falar do intercâmbio de professores, da maior participação do México nos EUA e dos EUA no México; das condições dos expatriados dos EUA no México e dos nossos migrantes lá", disse o ministro, lembrando que, só no campo comercial, as trocas EUA-México geram cerca de US$ 1 milhão por minuto.

DESAFIOS REGIONAIS

Depois do México, Obama segue para a Costa Rica, onde participará da cúpula de chefes de Estado da Sica, com a ideia de promover o desenvolvimento econômico, o combate às drogas e segurança regional.

Segundo a Casa Branca, a visita tem por objetivo tentar ajudar a região a acompanhar o desenvolvimento regional que tem se verificado em outras partes do continente.

Mas analistas tem apontado que, ao desembarcar no subcontinente sem uma agenda definida e de bolsos vazios, Obama levanta dúvidas sobre o que poderá alcançar em uma região politicamente dividida.

Questões territoriais opõem a Costa Rica e a Nicarágua, ao passo que a lealdade política em relação a Washington de países como o Panamá e Honduras é quebrada pela aliança de países como El Salvador e Nicarágua com Caracas.

Outro fator que impede que a região fale em uma só voz, segundo analistas, é uma rejeição à proposta do presidente guatemalteco, o general Otto Perez Molina, de rever as políticas antinarcótico aplicadas na região, com a possibilidade de legalização das drogas.

Mesmo com um velho aliado, o Panamá, a relação da Casa Branca tem sido descrita como "fria" e "distante" pelo jornal panamenho "La Prensa". A última visita de um presidente americano, naquela época George W. Bush, ao país ocorreu oito anos atrás.

O presidente panamenho, o empresário Ricardo Martinelli, foi recebido no Salão Oval da Casa Branca em abril de 2011.

Mas segundo os analistas ouvidos pelo jornal, a relação nunca se recuperou do baque após informações vazadas pelo site WikiLeaks sugerirem que Martinelli pediu à Embaixada americana na Cidade do Panamá que instalasse escutas para investigar seus inimigos políticos.

A Embaixada diz que recusou a requisição, enquanto o presidente negou ter feito o pedido.


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