Folha de S. Paulo


Em meio a alta de vizinhos, Brasil mantém gastos militares em 2012

Os gastos militares brasileiros se mantiveram praticamente estáveis em 2012 em relação ao ano anterior, enquanto que, no mesmo período, países vizinhos da América do Sul registraram aumentos significativos no setor, segundo estudo do Sipri (Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo, na sigla em inglês).

Os maiores crescimentos reais (descontando a inflação) ocorreram no Paraguai (43%) e na Venezuela (42%), enquanto o Brasil teve um crescimento de 5% negativos.

O levantamento se refere a todos os tipos de gastos militares, desde os destinados ao desenvolvimento e a compra de armas e equipamentos aos gastos com o pagamentos de militares da ativa e pensões.

O Ministério da Defesa afirmou que nem todos os recursos recebidos pela pasta foram contabilizados pelo Sipri (há uma diferença de R$ 1,6 bilhão). Além disso, embora o total de recursos em seu orçamento (R$ 66,3 bilhões) tenha variado pouco em relação ao ano anterior, o montante desse orçamento destinado a investimentos subiu 33% - de R$ 6,6 bilhões em 2011 para R$ 8,7 bilhões em 2012. Os recursos foram concentrados especialmente no desenvolvimento e compra de armas.

MODERNIZAÇÃO

Juntos, os países sul-americanos registraram um aumento de 3,8% nesse tipo de gasto --apesar da estabilidade do Brasil, cujos gastos representam mais da metade do total da região.

Isso representou uma tendência contrária à tendência mundial. Segundo o Sipri, os gastos militares globais em 2012 caíram 0,5% em relação ao ano anterior, o que representou a primeira redução desde 1998.

As maiores quedas se concentram na América do Norte, na Europa ocidental e na Austrália. Por outro lado, muitos países em desenvolvimento, entre os quais os do leste europeu, a China e a Rússia, elevaram seus orçamentos.

Para o pesquisador Hector Saint-Pierre, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), de forma geral, o aumento dos gastos com defesa nos países sul-americanos se explicam em programas de modernização de suas forças armadas, que vêm sendo implementados há alguns anos.

"Muitos [países da América do Sul] ainda tinham equipamentos até da [época da] Segunda Guerra. Eles estão se modernizando", disse.

No entanto, ele diz acreditar que a elevação desses gastos militares não reflete "uma ameaça séria na região da América do Sul. É uma questão de dissuasão mútua", avaliou.

VIZINHOS

Dono do crescimento percentual mais significativo na região, o Paraguai subiu seu patamar de despesas militares de 1,2 trilhão de guaranis (R$ 503 milhões) em 2011 para 1,8 trilhão (R$ 863 milhões) em 2012 (todas as conversões foram feitas com base no câmbio dos meses de dezembro de 2011 e 2012).

Parte desse dinheiro foi investida em um programa de modernização das Forças Armadas com a compra de blindados, aviões e equipamentos navais.

Já a Venezuela aumentou seus gastos de 10,2 bilhões de bolívares (R$ 4,4 bilhões) em 2011 para 17,2 bilhões (R$ 8,1 bilhões) em 2012. A elevação foi impulsionada por um empréstimo bilionário da Rússia.

O Sipri também destacou uma subida de gastos na Colômbia (11%). O orçamento militar do país em 2012 equivale a R$ 25,3 bilhões.

Saint-Pierre disse ainda que esses investimentos podem ser interpretados como uma tentativa dos governos de manter seus setores militares satisfeitos.


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